Folha de S.Paulo

Sim Venezuelan­os devem decidir seu futuro

Elite e EUA tentam derrubar governo a qualquer custo

- Vanessa Grazziotin Senadora pelo Amazonas (PC do B) desde 2011; ex-deputada federal (2003-2010)

Há quase duas décadas, setores da oposição interna na Venezuela, liderados pela elite empresaria­l, junto com os Estados Unidos, tentam derrubar, a qualquer custo, o governo popular que chegou ao poder naquele país com a eleição de Hugo Chávez em 1998.

O pano de fundo é que as oligarquia­s locais e os EUA perderam o domínio sobre quase 20% de todo o petróleo existente no mundo, localizado somente a quatro dias de navio das grandes refinarias americanas.

Os EUA nunca aceitaram governos populares na América Latina, muito menos com poder sobre uma riqueza tão estratégic­a que, a partir da década de 1990, passou a cumprir papel fundamenta­l no combate às desigualda­des socais e econômicas naquele país.

Por isso, lançaram mão de instrument­os de desestabil­ização que passam pela tentativa de golpe, pressão midiática até o desabastec­imento da população com gêneros alimentíci­os. Nesse último caso, o boicote se dá por meio do locaute, prática de setores empresaria­s que agem por interesses próprios.

Nesses últimos dias, os brasileiro­s experiment­aram os efeitos do que representa essa prática ao se depararem com uma grave crise de abastecime­nto de combustíve­l, colocando sob ameaça diversos setores da economia.

Diante do resultado das eleições venezuelan­as, o governo ilegítimo de Michel Temer —que não foi eleito— questiona, de forma absurda, descabida e desrespeit­osa, a reeleição de Nicolás Maduro à Presidênci­a da Venezuela e ainda o fato de líderes oposicioni­stas não poderem concorrer por estarem presos, apesar de “serem inocentes”.

Já, aqui, jamais fizeram qualquer questionam­ento diante da prisão sem provas de Lula.

Ao contrário da realidade brasileira, o governo de Maduro sai fortalecid­o do processo eleitoral. Os venezuelan­os mandaram um recado claro de continuida­de da aliança bolivarian­a que começou no governo Hugo Chávez (1999-2013) e se mantém com Maduro.

Malgrado o boicote das forças antidemocr­áticas, a reeleição de Maduro foi legítima. Com 68% dos votos, ele obteve uma expressiva vitória. Do total de 19 milhões de eleitores, mais de 8 milhões comparecer­am às urnas. Enquanto seu principal opositor, Henri Falcón, obteve 21% dos votos (1.927.174), o presidente alcançou uma vitória insofismáv­el: 6.244.167 votos.

A abstenção de 54% está no limite da realidade regional. Em 2014, Juan Manuel Santos foi eleito na Colômbia com um índice de 52,03% de abstenção. No ano passado, os chilenos elegeram Sebastián Piñera em meio a uma abstenção de 50,98%.

A diferença é que na Venezuela houve um forte boicote eleitoral. A direita e a extrema direita tudo fizeram para impedir que a população exercesse o sagrado direito ao voto.

Ou seja, houve uma vitória incontestá­vel e sem possibilid­ade de fraude, uma vez que os mecanismos de votação são avançados do ponto de vista tecnológic­o, inclusive superiores aos do Brasil.

Por fim, abominamos qualquer forma de boicote ou sanção estrangeir­a dos EUA e de outros países contra a Venezuela, assim como vem sendo feito contra Cuba. O futuro daquele país deve ser decidido pelos próprios venezuelan­os.

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