Folha de S.Paulo

Incertezas sobre bloqueio afetam Bolsa de SP

Ibovespa recua 1,5% em meio a tensões com a paralisaçã­o dos caminhonei­ros; Petrobras perde R$ 86 bi na semana

- Anaïs Fernandes, Estelita Hass Carazzai, Maeli Prado e Silas Martí

A Bolsa brasileira caiu pelo terceiro dia seguido e perdeu o patamar dos 80 mil pontos nesta sexta (25), com continuida­de da paralisaçã­o dos caminhonei­ros.

O Ibovespa, índice que reúne as ações de maior liquidez, recuou 1,53%, para 78.897,66 pontos, menor patamar desde 10 de janeiro. Na semana, o indicador acumula queda de 5%, e, no mês, de 8,4%. No ano, porém, ainda sobe 3,3%.

Os investidor­es não se convencera­m de que o governo tem a situação sob controle. Tampouco afastaram temores de futuras intervençõ­es políticas na Petrobras, apesar de a equipe econômica ter garantido na quinta (23) que não haverá prejuízos à estatal para que os reajustes da petroleira nas refinarias sejam repassados mensalment­e, e não mais diariament­e.

As ações da Petrobras, que chegaram a abrir em alta de 4%, caíram 1,4% (preferenci­ais) e 0,7% (ordinárias). Na semana, o papel preferenci­al (mais negociado) recuou 22,8% e a empresa perdeu R$ 85,7 bilhões em valor de mercado.

“Há incerteza aqui sobre o que o governo vai tirar da cartola para solucionar o problema. O trato não convenceu ninguém”, diz Lucas Claro, da Ativa Investimen­tos.

Investidor­es estrangeir­os também reagiram de forma negativa. As ADRs (recibos de ação negociados nos Estados Unidos) caíram 1,3%.

Os bancos Merrill Lynch e Credit Suisse rebaixaram suas notas para a estatal. O Morgan Stanley vê os acontecime­ntos desta semana como fatores que podem “erodir a confiança dos investidor­es”.

“A grande lição é que a Petrobras está muito vulnerável”, diz Christophe­r Garman, diretor da consultori­a de risco Eurasia. “Vai ser difícil convencer o investidor de que a nova política de reajuste de preços será levada a ferro e fogo.”

Rumores de uma possível saída do presidente da Petrobras, Pedro Parente, também não se dissiparam e preocupam. “Ele é competente, se saísse hoje, seria um baque. O temor é que, dependendo do que o governo faça, Parente renuncie”, diz Claro.

Os prejuízos na estatal se estendem à confiança no Brasil, apontam analistas, e fazem com que investidor­es abandonem a complacênc­ia com o país —pela gradual recuperaçã­o econômica e possibilid­ade de mudança após eleições— e adotem mais cautela.

“Esse episódio confirma a incapacida­de do governo, em quase todas as instâncias, de fazer o básico para governar”, afirmou Joel Velasco, sócio da consultori­a Albright Stonebridg­e Group. “É um país cheio de incertezas.”

O CDS (credit default swap, termômetro do risco-país) brasileiro, que vinha caindo desde segunda, subiu 0,85% na quinta e 1,07%, nesta sexta, para 192,574 pontos.

O risco político dos últimos dias também levou a altas nas taxas de contratos de juros futuros, colocando em dúvida o compromiss­o do governo com o ajuste fiscal.

O DI para janeiro de 2025, por exemplo, foi de 10,69% para 10,9% nesta sessão.

Para reduzir a volatilida­de, o Tesouro Nacional informou que vai realizar leilões de compra e venda de títulos públicos entre os dias 28 e 30.

“O objetivo da atuação é fornecer suporte ao mercado de títulos públicos garantindo bom funcioname­nto desse e de outros mercados correlatos”, afirmou.

A aversão ao risco contribuiu ainda para o dólar subir ante o real, movimento reforçado pela valorizaçã­o da moeda americana pelo mudo —avançou sobre 21 das 31 principais divisas.

O dólar comercial ganhou 0,54%, cotado a R$ 3,669. O dólar à vista subiu 0,66%, a R$ 3,661. Em semana marcada por intervençã­o mais forte do Banco Central no câmbio, a moeda caiu 2,23%. No ano, no entanto, ainda sobe 10,53%.

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