‘Estranha’, cidade tem sexta com cara de final de semana
Paralisação de caminhoneiros muda rotina, e paulistanos trabalham de casa e desmarcam viagens e compromissos
são paulo A paralisação de caminhoneiros, que entrou no 5º dia nesta sexta-feira (25), afetou a rotina de moradores de São Paulo, que precisaram trabalhar de casa, usar outros meios de transporte e cancelar atividades.
O trânsito da cidade ficou mais tranquilo, mesmo com o rodízio de carros suspenso. Segundo a CET, o congestionamento durante a amanhã não ficou acima da média em nenhum momento.
O motorista de Uber Gustavo de Sousa, 24, disse que a cidade ficou vazia. “Está diferente, estranha”, diz ele, que ficou uma hora na fila para abastecer o carro. “Acho que amanhã eu não consigo mais rodar”.
Para Wagner de Oliveira, 60, também motorista de Uber, a sexta estava “com cara de sábado”. “Está muito tranquilo, porque ninguém tem combustível para sair. Vários motoristas de Uber pararam de circular”. Ele também não conseguiu mais abastecer o carro.
A manicure Rosângela Bandeira, 46, decidiu pedalar 9 km, de Santo Amaro ao Ibirapuera (zona sul), para não perder o curso de cabeleireira.
“Eu costumo ir de ônibus, mas como hoje não tinha, fui de bicicleta”, conta ela, que considerou a experiência positiva. “Foi um divertimento”. De acordo com a prefeitura, cerca de 60% dos ônibus programados circularam no pico da manhã desta sexta.
Para realizar um bico de faxineira no sábado, em Parelheiros, Rosangela deve pedalar novamente, por 1h20. Apesar do transtorno, ela apoia a paralisação. “A gasolina está muito cara, virou um luxo.”
O administrador Hélio Carvalho, 53, precisou buscar o filho de carro no Colégio Piaget, em Imirim (zona norte), porque a van escolar não circulou. “Muitos alunos não conseguiram chegar e faltaram”, diz o filho, Carlos, de 13 anos. Além disso, Hélio trabalha em Minas gerais e precisou voltar antes para São Paulo.
“Para chegar aqui, precisei passar por vários bloqueios. Eu apoio a paralisação por um lado, mas eles intimidam, com pau na mão, dá medo”, afirma.
Alessandra Araújo, 42, é totalmente contra. “Não acho certo impedir o direito de ir e vir”, explica. A consultora disse que precisou trabalhar de casa, porque o carro ficou sem gasolina, o transporte estava escasso, e a escola do filho cancelou as aulas.
“Moro do lado de uma avenida e está um silêncio, não passa um ônibus aqui”, diz ela, sobre o bairro Água Rasa, na zona leste. Segundo ela, a escola do filho, particular, avisou que os professores não conseguiram chegar e as aulas seriam suspensas.
Além do trabalho, muitos paulistanos precisaram cancelar programas e compromissos. A comerciante Liriane Adami, 53, desmarcou atividades no fim de semana para economizar combustível.
“A gente ia fazer um passeio, mas desistiu. Tenho criança e uma mãe de 81 anos, se tiver uma emergência, não posso ficar sem carro”, disse ela, ao buscar a filha na escola, em Higienópolis (centro).
O pronunciamento do presidente Michel Temer nesta sexta, sobre o uso das Forças Armadas para liberar estradas, foi citado pela comerciante como mais um motivo para ficar em casa. “Não tem clima para sair. Estamos preocupados, tensos”, diz.
Voos foram cancelados e algumas companhias aéreas flexibilizaram a remarcação. A tradutora Roseli Santos, 56, ia viajar para Porto Alegre, para o aniversário de 83 anos do pai, mas desistiu. Seu voo não havia sido cancelado, mas ela temia não conseguir retornar na segunda.
“Pelo que os meus parentes falaram, em Porto Alegre está pior. Fica um clima de insegurança”, justifica. A tradutora pagou cerca de R$ 600 para remarcar as passagens.
O empresário Márcio Montesinos, 36, foi até o aeroporto de Congonhas, passou pelo raio-x e chegou até o portão de embarque. Só então foi informado de que não poderia viajar nesta sexta-feira de manhã. “Me disseram que a conexão, de Belo Horizonte para Ipatinga, não poderia ser feita por falta de combustível”, afirmou.
“Era aniversário da minha sogra, ela ficou bem chateada”, conta ele, que se diz preocupado com a paralisação. “Eu entendo os motivos, mas o direito de ir e vir é constitucional.Estáprejudicandomuita gente”, comenta.
“Eu apoio, mas eles intimidam, com pau na mão, dá medo
Hélio Carvalho administrador