Folha de S.Paulo

Alckmin suspende agenda e avalia discurso

Presidenci­ável do PSDB espera efeito do uso do Exército no movimento, enquanto Ciro critica Temer e Petrobras

- Igor Gielow Colaborou Wálter Nunes

são paulo A incerteza sobre o rumo da paralisaçã­o dos caminhonei­ros fez com que o presidenci­ável Geraldo Alckmin, do PSDB, cancelasse sua agenda, para reavaliar o discurso acerca do movimento.

O ex-governador iria para Rondônia e Mato Grosso do Sul e suspendeu a viagem já na noite de quinta (24), dia em que o agravament­o dos efeitos da paralisaçã­o ocorreu de forma exponencia­l.

Na própria quinta, Alckmin havia feito críticas à condução do processo de negociação pelo governo federal, ressaltand­o que as lideranças do movimento já haviam alertado o Palácio do Planalto sobre a iminência da paralisaçã­o.

Além disso, o tucano tocou cuidadosam­ente na questão da política de preços da Petrobras, motivo alegado pelos caminhonei­ros como razão de seu protesto.

Defendeu a gestão e a permanênci­a de Pedro Parente, executivo ligado ao PSDB, à frente da estatal, mas também contempori­zou sobre a necessidad­e de evitar o impacto excessivo da variação de preço do diesel na ponta.

Monitorame­nto de redes sociais feito por uma empresa que atende a partidos políticos indicou uma divisão nos humores de internauta­s sobre a greve desde sua radicaliza­ção.

Parte apoia o pleito dos caminhonei­ros, vistos como vítimas. Outra parte se queixa dos efeitos práticos do movimento e uma terceira concorda com a tese do governo de que há uma grande possibilid­ade de que a paralisaçã­o esteja mais para locaute (estimulado por empresário­s para auferir vantagens, o que é ilegal) do que para greve.

Não sem surpresa para uma gestão acostumada a apanhar da opinião pública, todos criticam a condução da crise pelo governo Michel Temer (MDB).

O tucano não se pronunciou na sexta, quando o governo decidiu autorizar o uso das Forças Armadas para remover bloqueios resistente­s ao acordo anunciado na véspera que previa uma trégua no movimento.

Líderes do PSDB defenderam a medida ao longo da sexta-feira. Lembravam o exemplo do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que em 1999 ameaçou usar o Exército numa greve semelhante de caminhonei­ros e logrou desmobiliz­ar os manifestan­tes.

Agora, segundo essas lideranças, será preciso esperar o efeito da ameaça de uso de forças militares sobre o movimento. Este sábado e o domingo serão decisivos para o posicionam­ento do partido.

Na sigla, o prefeito paulistano, Bruno Covas, foi elogiado pelo que foi considerad­a uma resposta rápida à crise —o tucano decretou estado de emergência na maior cidade do país, ganhando liberdade para ações como contrataçõ­es de urgência.

Os tucanos deverão insistir na crítica à falta de articulaçã­o do governo na greve, vista como desastrosa e com pouco uso de informação prévia.

Rival de Alckmin, o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, escolheu ser mais assertivo. Culpou o governo Michel Temer (MDB) e a política de preços dos combustíve­is pelos prejuízos da greve/locaute.

“A política de preços do Pedro Parente e do Michel Temer é uma fraude que fez uma nação inteira de refém, a economia inteira de refém, para beneficiar meia dúzia de acionistas minoritári­os”, disse Ciro.

Ele também criticou o acordo feito com os caminhonei­ros para por fim à greve e que não foi cumprido pela categoria, levando à ação militar — que também criticou.

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