Desmatamento da mata atlântica em 2017 foi o menor desde 1985
Perda média anual da floresta há 30 anos era quase dez vezes maior que hoje, diz levantamento
são carlos A derrubada de florestas na mata atlântica durante o ano passado foi a menor registrada desde os anos 1980, quando começou o monitoramento sistemático das ameaças ao bioma.
Em 2017, o ambiente que predominava em todo o litoral brasileiro quando os portugueses aportaram aqui perdeu 12,56 mil hectares (área 34% maior do que a de Vitória, ES). de cobertura florestal. Três décadas atrás, a perda média anual da floresta era quase dez vezes maior.
Em dois terços dos estados brasileiros onde a mata atlântica ocorre, houve redução do desmatamento no último ano, inclusive nos quatro estados que mais desmatam (Bahia, Minas Gerais, Paraná e Piauí).
Outros sete estados atingiram um nível considerado de “desmatamento zero”, com perda de área florestal igual ou inferior a cem hectares. Entre eles está São Paulo (veja infográfico).
O levantamento dos dados de satélite sobre o desmate foi coordenado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Apesar do registro compa- rativamente positivo, não se pode dizer que há uma tendência de queda consolidada do desmatamento no bioma, diz Marcia Hirota, diretora-executiva da SOS Mata Atlântica. Os dados desta década por enquanto incluem várias oscilações — de 2015 a 2016, a taxa foi quase o triplo da do último período.
“De qualquer maneira, o dado serve para continuarmos cobrando o compromisso das autoridades para que ele se torne de fato uma tendência. A mata atlântica é o único bioma que tem uma lei específica para protegê-lo, então temos de exigir desmatamento ilegal zero”, diz ela.
Uma hipótese para explicar a queda mais recente é a lentidão da economia brasileira, que diminuiria os atrativos de desmatar para a agricultura ou para a especulação imobiliária, mas esses fatores já estavam em ação alguns anos atrás.
Um conjunto de características faz com que a mata atlântica seja objeto de cuidado especial. Ela combina diversidade animal e vegetal, alto grau de endemismos (espécies que só existem em suas matas, e em nenhum outro lugar) e impacto humano muito forte, já que 70% da população brasileira hoje vive em áreas em que predomina o bioma.
Estima-se que apenas 12,4% da cobertura florestal original da mata ainda esteja de pé, e boa parte corresponde a áreas muito fragmentadas.
Por isso, além da necessidade de zerar o desmatamento, muitos projetos buscam arquitetar corredores ecológicos que conectem os fragmentos de mata e permitam que animais possam transitar entre eles, em busca de parceiros, habitat e alimentos.
A medição periódica do desmate por satélite também tem mostrado que algumas áreas concentram de forma recorrente o grosso da devastação. São regiões como o sul da Bahia, o noroeste de Minas Gerais e o centro-sul do Paraná.
“Nesses estados mais críticos, a gente sabe há anos o que acontece. Em Minas, a questão é a produção de carvão e a substituição da mata nativa pelo plantio de eucalipto”, diz Hirota. “Fica claro onde a Polícia Federal deve agir para controlar essa tendência.”
A proximidade dos remanescentes da mata atlântica em relação aos principais centros urbanos do país significa que os serviços ambientais da floresta — seu papel na polinização de lavouras e na purificação de água, por exemplo — são importantes para a maioria da população.
Por isso, governos estaduais e municipais têm começado a implantar sistemas de compensação ou pagamento de serviços ambientais, remunerando produtores rurais que preservam a mata.