Folha de S.Paulo

Saber cozinhar é vantagem evolutiva

- Marcos Nogueira folha.com/cozinhabru­ta

Caos. Desolação. Guerra civil. A julgar pela gritaria nas redes sociais, o país está a caminho do armagedon.

Num cenário assim crítico, quem sabe cozinhar tem mais chances de sobreviver. Porque cozinheiro­s são indispensá­veis em qualquer situação, inclusive na guerra. Prisioneir­os com dotes culinários têm tratamento diferencia­do.

Não chegaremos a tanto, presumo. Espero. Tracemos, portanto, prognóstic­o ligeiramen­te mais benigno. Desabastec­imento geral.

Sem combustíve­l para motos, suspendem-se as entregas de pizza. Restaurant­es fecham por falta de funcionári­os. Nos mercados, o estoque de lasanha congelada desaparece em um átimo. Por fim, acabam todas as bolachas água e sal. Nas gôndolas, sobram só as latas de salsicha vegetal.

Será preciso se virar com um punhado de arroz e verduras murchas. Coisas sem valor para os analfabeto­s do fogão. Nas mãos de quem sabe cozinhar, podes era chave da sobrevivên­cia.

Estou exagerando, é óbvio. A situação deve voltar ao normal —seja isso o que for— em questão de dias. Usei as alegorias para frisar a importânci­a de saber cozinhar. Mais que um dom, é uma vantagem evolutiva.

Somos autossufic­ientes. Melhor ainda, somos capazes de comer exatamente aquilo que desejamos —já que nós mesmos preparamos a comida.

Nas festas familiares, quem cozinha está isento de ouvir o papo da sala, onde está o tio reaça que já tomou oito taças de lambrusco. Nos churrascos, quem controla o fogo temo poderdes aci aros convidados co ml ingu iça e coraçãozin­ho—eguar dara picanha para ele( a) próprio( a) comer no final.

Saber cozinhar é ferramenta útil no acasalamen­to. Aquele negócio de “pegar pelo estômago” funciona. Vale para homens, mulheres, cis, trans, homo, hétero e o que houver no balaio.

Por último, mas não menos importante: cozinhar costuma ser salvo-conduto, que exime o portador da tarefa de lavar louça. Aqui em casa não funciona assim, mas ouvi dizer queéo padrão.

Pense nisso. Aprenda a cozinhar antes que o mundo acabe.

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