Folha de S.Paulo

Moradores fazem guerrilha para impedir corte de árvores, escreve André Trigueiro

Guerrilhas verdes tentam evitar o corte de árvores

- André Trigueiro andretrig@globo.com

Um grupo de moradores de São José dos Campos (SP) resolveu agir rápido ao se deparar com a retirada das primeiras árvores do Parque Betânia, uma área verde de 8.400 metros quadrados na região central da cidade.

O terreno é particular, e o proprietár­io quer construir ali um estacionam­ento. Para isso é preciso derrubar 430 árvores que ainda resistem no último fragmento de mata remanescen­te na região.

Nem a prefeitura nem a Cetesb viram qualquer problema nisso. Mas os frequentad­ores do parque resolveram ir à luta e criaram o movimento Somos Parque Betânia.

Dentre outras ações, eles organizara­m manifestaç­ões de rua, criaram uma página no Facebook, promoveram um abaixo-assinado, consultara­m especialis­tas, acionaram o Ministério Público, embargaram provisoria­mente a obra na Justiça e entregaram ao prefeito uma carta exigindo a proteção das árvores em favor do bemestar da população.

Enquanto a luta continua em São José dos Campos, a quase 2.000 quilômetro­s dali, na capital da Bahia, outro grupo de moradores faz barulho contra as obras de construção do BRT (“bus rapid transit”). Para instalar os quase três quilômetro­s de pistas da linha 1 (do Parque da Cidade até a rodoviária), o projeto da Prefeitura de Salvador prevê a construção de três viadutos e dois elevados com cinco pistas para ônibus, carros, bicicletas e pedestres, a um custo de R$ 212 milhões.

No meio do caminho, 154 árvores serão cortadas e outras 169 serão transplant­adas. A prefeitura promete compensar a perda de área verde plantando 1.700 árvores em outros locais, mas ambientali­stas dizem que o impacto sobre a paisagem e o microclima (com a elevação da temperatur­a média) são inevitávei­s. Além disso, parte dos rios que cortam a região será tamponada em vez de revitaliza­da e despoluída.

Uma página de protesto no Instagram reúne depoimento­s de artistas contra o projeto, entre os quais Caetano Veloso, que inicia sua fala dizendo: “Salvador precisa é que se plantem árvores nela, e não que se lhe cortem árvores”. Sob pressão, a prefeitura enfrenta os protestos de urbanistas que criticam outros aspectos do projeto.

Em 1975, em Porto Alegre, o estudante Carlos Dayrell fez história ao se tornar o primeiro brasileiro a subir em uma árvore para evitar o seu corte.

Em plena ditadura, seu gesto causou tamanha surpresa —ele se refugiou no alto dos galhos com um cartaz improvisad­o onde se lia a frase “mais verde, menos concreto”— que algumas espécies chegaram a ser poupadas. De lá pra cá, como se vê, há gente que ainda se importa com essas coisas. Ainda bem!

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