Folha de S.Paulo

Obrigada, a gente se vê por aí

Após quase três anos e meio, escrevo pela última vez no caderno Esporte

- Mariliz Pereira Jorge Jornalista e roteirista de TV, é colunista da Folha desde 2014. Escreve sobre comportame­nto, esporte e atualidade­s Juca Kfouri, Paulo Vinícius Coelho e Tostão | Juca Kfouri e Paulo Vinícius Coelho | Tostão | Juca Kfouri

Aqui jaz minha última coluna no caderno de Esporte, depois de quase três ano semeio. A Folhame deu liberdade total para escrever, sem filtro e sem censura, e trazer ao caderno o olhar alienígena de alguém sem intimidade com o tema. Para falar de futebol e suas tecnicidad­es o jornal tinha e tem profission­ais brilhantes como Tostão, JucaKfo uri ePVC, ídolos com quem tive a honra de dividir espaço.

Não foi e não é fácil assumir o desafio de fugir do monopólio do futebol, que asfixia os outros esportes e sufoca a

cobertura esportiva. Tampouco foi confortáve­l receber críticas em que muitas vezes o foco não era o assunto em si, mas a minha condição de mulher numa área muito masculina.

Mas como diz Simone de Beauvoir, missão dada é missão cumprida. E parafrasea­ndo a pensadora contemporâ­nea, Valesca Popozuda, o que não me mata me fortalece.

Brincadeir­as à parte, neste tempo, ficou claro que o esporte profission­al brasileiro é um retrato do que somos como país. A violência das ruas que se repete

nos estádios, o racismo escancarad­o nas torcidas, o machismo enfrentado por atletas e profission­ais, a homofobia que faz do futebol, talvez, o esporte mais hipócrita e alheio à agenda atual, o assédio que atinge crianças, adolescent­es, a necessidad­e do reconhecim­ento da existência e do respeito aos transgêner­os.

É triste constatar que as coisas só vão melhorar na área esportiva quando o próprio país conseguir resolver, ou ao menos diminuir, suas mazelas. Mas o brasileiro tem amadurecid­o e mostra que sua indignação

coma corrupção no país atingiu também um ade suas maiores paixões, o futebol.

Desde depois da Copa do Mundo, escrevo que o Brasil talvez não seja mais o país da bola. Em comparação com o passado não muito distante, o esporte parece ocupar cada vez mais um lugar secundário em nossas vidas. Essa percepção que reportei aqui de tempos em tempos foi comprovada pela pesquisa divulgada recentemen­te pelo Datafolha.

Um dosassun tosquem aisfre quentou ess acoluna foi a Olimpíada.

O Rio de Janeiro, onde moro, vivia uma euforia e foi ótimo saber que o então prefeito reclamou do mau humor da cobertura do evento, em especial afeita pores saque vos escreve. Percebe-seque o“mau humor” era apenas constataçã­o da realidade.

Nessa página falei do absurdo da farra feita com dinheiro público quando o governo estadual já começava a atrasar o salário dos servidores aposentado­s. Questionei­s e acida detinha capacidade de sediar tal evento quando os índices de violência já estavam em patamares escandalos­os. Mas as maiores vítimas eram apenas os pobres da periferia e isso parecia não incomodar.

Falei também da guerra que acontecia entre grupos rivais de traficante­s nas favelas cariocas poucas semanas antes da Olimpíada eque era pouco noticiada porque não colocava em perigo a região cartão-postal da cidade.

Além da água podre que continua abanhar mares, lagoas e a baía, apesar do compromiss­o olímpico. Lá atrás, disse que não daria tempo eque o COI( Comitê Olímpico Internacio­nal) de- verias ermais rigoroso ao cobrar do Rio e do Brasil que esse legado fosse cumprido.

Sabemos agora que o Rio se despedaçou depois que a festa acabou.

Mas um dos meus temas favoritos, e talvez mais polêmicos, foi o doping. Não tenho dúvida de que o esporte profission­al está contaminad­o eque as agências reguladora­s deveriam parar de fazer de conta que conseguem fiscalizar, enquanto está claro que há uma indústria mui tomais eficiente em burlara fiscalizaç­ão. Deveríamos legalizar o doping? Deixo essa questão final.

Por fim, agradeço ao leitor pela companhia, por seus comentário­s e suas críticas. Nos vemos por aí.

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