Escândalo de corrupção põe mandato de Rajoy sob risco
Oposição pede moção de censura contra premiê espanhol, e partido aliado exige antecipação de eleição
O primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, foi ameaçado com uma moção de censura e confrontado com exigências de uma eleição antecipada nesta sextafeira (25) por causa de um julgamento de corrupção envolvendo membros de seu partido no qual um juiz pôs em dúvida seu depoimento.
Rajoy disse que enfrentará a moção de desconfiança e concluirá seu mandato de quatro anos, descartando antecipar a eleição. “Isto vai contra a estabilidade política de que nosso país precisa e vai contra a recuperação econômica. É ruim para a Espanha.”
O oposicionista PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) registrou no Parlamento a moção de censura contra o governo para tentar derrubar o Executivo e formar uma nova gestão, que seria comandada por Pedro Sánchez, líder dos socialistas.
Para alcançar seu objetivo, a moção precisa do apoio de 176 deputados de um total de 350, cifra difícil de alcançar porque a oposição é muito dividida. O PSOE tem 84 cadeiras, ante 137 do Partido Popular (PP), de Rajoy.
Só seria possível construir a maioria necessária para levar a proposta adiante com o apoio do esquerdista Podemos (que já anunciou seu respaldo) e de siglas nacionalistas bascas e catalãs. É nesse último ponto que está o calcanhar de Aquiles do PSOE, que estabeleceu uma frente comum com o PP ante o ímpeto separatista da Catalunha.
Ainda que improvável, tratase da única composição possível, já que o centrista Cidadãos e seus 32 deputados, fiadores do governo de minoria de Rajoy, avisaram que não vão apoiar a moção de censura, mas exigir que o premiê convoque eleições.
Os aliados, porém, já disseram que, se isso não for feito, eles mesmos apresentarão uma segunda moção de desconfiança visando Rajoy. Para o líder do Cidadãos, Albert Rivera, a condenação do PP “liquidou a legislatura”.
A Justiça considerou que a legenda governista foi a beneficiária de um caso de financiamento ilegal, no maior escândalo de corrupção da história moderna do país.
Um tribunal condenou a 51 anos de prisão o empresário Francisco Correa. O esquema, conhecido como Operação Gürtel e cuja trama foi comparada à investigada pela Lava Jato no Brasil, atinge em cheio o governo.
Dos 37 acusados, 29 foram condenados a um total de 351 anos. Os crimes analisados foram cometidos na primeira fase da trama, entre 1999 e 2005. A lista de delitos inclui fraude, falsificação de documentos, mau uso de verbas e tráfico de influência.
O tribunal também condenou Luis Bárcenas, ex-tesoureiro do PP, a 33 anos de prisão e ao pagamento de uma multa de € 44 milhões (R$ 183 milhões) —ele sonegou impostos e cobrou comissões em contratos públicos, segundo a corte.
O caso de Bárcenas é delicado devido a sua proximidade com Rajoy.