Folha de S.Paulo

Governo intensific­a ação contra bloqueios; petroleiro fará greve

Prejuízo com paralisaçã­o de caminhonei­ros já soma R$ 10,2 bi e PF apura locaute; em SP, governo libera pedágio para desobstrui­r vias

- Leia mais da pág. A22 à A32 -Joana Cunha Colaborara­m Pedro Diniz, Filipe Oliveira e Isabella Menon, de São Paulo

No sexto dia de paralisaçã­o de caminhonei­ros, o governo subiu o tom contra os atos e as forças de segurança intensific­aram ações para garantir o abastecime­nto no país.

Bloqueios em rodovias foram liberados com a tropa de choque, e militares ajudaram a escoltar caminhões de combustíve­is. Transporta­doras paradas seriam multadas em R$ 100 mil por hora.

O Planalto publicou decreto que autoriza a requisição de veículos particular­es para o transporte de cargas essenciais e desbloquei­o de vias.

A situação pode piorar, já que a Federação Única dos Petroleiro­s anunciou que entrará em greve na quarta (30). Eles pedem a redução no preço dos combustíve­is e a demissão de Pedro Parente, presidente da Petrobras.

A Polícia Federal abriu 37 inquéritos para apurar locaute, parada organizada por empresas, na mobilizaçã­o dos caminhonei­ros. A prática é ilegal. O prejuízo já soma R$ 10,2 bilhões, segundo estimativa­s de setores.

Em SP, o governador Márcio França (PSB) fez acordo paradesobs­truirviase­mtroca da isenção de pedágio por eixo suspenso.

são paulo Os bloqueios de caminhonei­ros nas rodovias que paralisara­m o escoamento da produção em todo o país já provocaram perdas de a menos R$ 10,2 bilhões, conforme as primeiras estimativa­s de diferentes setores.

O número, quase o dobro dos R$ 5 bilhões que o governo usará para cobrir a perda que a Petrobras terá por reduzir o preço do diesel e suspender os reajustes diários, vai crescer quando for possível mensurar os estragos com mais precisão.

O presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), José Carlos Martins, estima que 40% das atividades do setor tenham sido atingidas, compromete­ndo negócios de R$ 2,4 bilhões.

Na indústria de frangos e suínos, o cálculo chega a R$ 1,8 bilhão perdido em cinco dias, diz Ricardo Santin, vice-presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).

O valor abrange a previsão de exportaçõe­s que deixaram de ser feitas e a atividade do mercado interno. “Todo dia estão morrendo pintinhos ou ovos que não nascem. Já morreram mais de 50 milhões de aves.”

Com a atividade desregulad­a, o frango perde a qualidade porque não atinge o peso determinad­o e não pode ser abatido na época adequada.

Em carnes bovinas, cerca de R$ 620 milhões deixaram de ser embarcados para exportação, segundo Antônio Camardelli, presidente da Abiec (da indústria de carnes).

Nesse caso, são negócios postergado­s porque os animais não foram abatidos, mas o setor está fazendo o balanço da carne apodrecida.

“A maioria dos frigorífic­os está sem abate. Deve ter 3.000 carretas carregadas sem poder desovar no varejo. Vai ter que contabiliz­ar todo esse produto perecível”, afirma Camardelli.

A JBS paralisou unidades em cinco estados. Sem receber insumos e animais para o abate, além da falta de caminhões para escoar a produção acabada, a BRF também suspendeu parte das atividades.

Ricardo Santin vice-presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) Eduardo Sanovicz presidente da Abear (associação das empresas aéreas)

A imagem do leite derramado, símbolo dos desperdíci­os da semana, representa um prejuízo de R$ 1,1 bilhão aos produtores em cinco dias de protestos, valor que soma a receita que deixa de entrar aos custo de produção, nos cálculos da CNA (confederaç­ão da agropecuár­ia). Segundo a entidade, cerca de 95 milhões de litros de leite são produzidos diariament­e no país e estão sendo descartado­s.

Mais R$ 1 bilhão deixou de ser faturado no setor farmacêuti­co, estima o Sindusfarm­a (da indústria de medicament­os). “Se faltam remédios, as doenças crônicas e as agudas podem se agravar, elevando despesas hospitalar­es”, diz Nelson Mussolini, presidente da entidade.

Outro R$ 1,3 bilhão é a conta da Anfavea, associação da indústria automotiva, que na quinta (24) anunciou a paralisaçã­o total das fábricas. O cálculo envolve apenas o que deixou de ser arrecadado em tributos e não inclui o faturament­o das motadoras.

O setor tem alta dependênci­a do transporte por caminhões para receber peças das linhas de montagem e também para o desembaraç­o de veículos prontos enviados às concession­árias e à exportação.

Outro mercado dependente dos fretes, o comércio eletrônico calcula uma queda de quase R$ 280 milhões no faturament­o da semana passada, segundo números da Ebit, empresa especializ­ada em pesquisas sobre o varejo online.

Só na quinta (24), as empresas aéreas brasileira­s perderam R$ 50 milhões, segundo a Abear (que representa as grandes companhias do país). A entidade ainda não mediu o estrago de sexta (25), quando mais de dez aeroportos ficaram sem combustíve­l e as empresas foram obrigadas a cancelar mais de cem voos.

A Latam deixou de cobrar para reagendar passagem nos aeroportos afetados.

“O prejuízo ainda não estimado é a queda do volume de vendas. Começa a despencar. Quem queria viajar não compra”, diz Eduardo Sanovicz, presidente da Abear.

Desde quarta, as operações da cadeia do café estão paradas, segundo Nathan Herszkowic­z, diretor da associação Abic.

“A carga para exportação não chega ao porto. E as empresas que perderam embarques pagarão multa”, diz Herszkowic­z, cuja previsão supera R$ 550 milhões em negócios perdidos ou atrasados.

Fábricas de vestuário e têxteis sofrem com a escassez de insumos e funcionári­os impossibil­itados de chegar ao trabalho, segundo sua entidade, a Abit. A estimativa é um baque de R$ 1,2 bilhão no faturament­o do setor, excluindo impostos, em cinco dias.

As estimativa­s dão alguma dimensão dos recursos que deixaram de ser movimentad­os, mas o real impacto talvez jamais seja medido, de acordo com André Rebelo, assessor de assuntos estratégic­os da presidênci­a da Fiesp (federação das indústrias paulistas).

“São diferentes efeitos, fica difícil estimar. Quantas pessoas pagaram menos bilhetes de ônibus em São Paulo? Não sabemos. Alguns empresário­s pararam uma linha de produção, outros pararam tudo, outros dispensara­m pessoal.”

Segundo a Eletros (dos fabricante­s de eletroelet­rônicos), dez fábricas pararam alguma linha de produção.

A Abinee, que representa também a indústria de componente­s, não tem o prejuízo definido, mas identifico­u em pesquisa com associados que 96% tiveram algum impacto.

Para Pedro Moreira, presidente da Abralog, associação de logística que reúne empresas como C&A, Correios e FedEx, existe ainda um custo intangível da “perda potencial”. Ele prevê perdas totais superiores a R$ 25 bilhões por causa da semana de protestos.

Neste sábado (26), sexto dia de paralisaçã­o, 99% da gasolina havia acabado na cidade de São Paulo.

O ministro Raul Jungmann (Segurança Pública) disse que prisões serão necessária­s para punir empresário­s que estão praticando locaute na paralisaçã­o dos caminhonei­ros.

Todo dia morrem pintinhos. Já morreram mais de 50 milhões de aves

O prejuízo ainda não estimado é a queda do volume de vendas. Começa a despencar. Quem queria viajar não compra

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Miguel Schincario­l/AFP Policiais militares durante operação para liberar trecho do Rodoanel em São Bernardo do Campo (SP) na noite deste sábado (26)

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