Folha de S.Paulo

Paz com as Farc perde espaço na pauta da eleição presidenci­al na Colômbia

Economia, segurança e corrupção preocupam mais o eleitor, que vai às urnas este domingo (27)

- -Sylvia Colombo *leva em conta uma cesta de produtos e serviços Fontes: Conselho das Américas, Dane e FMI

bogotá Apesar de a paz ter tido um papel predominan­te nas últimas eleições na Colômbia e estar no centro das atenções dos meios estrangeir­os, este não é o assunto que surge como o mais relevante para os 36 milhões de eleitores —de uma população de 49 milhões— chamados às urnas neste domingo (27).

Pesquisas recentes mostram preocupaçã­o maior com os rumos da economia, com a segurança e com a corrupção —os três aparecem antes dos acordos de paz com as guerrilhas nos levantamen­tos. O voto não é obrigatóri­o na Colômbia.

Sobram, também, críticas ao atual presidente, Juan Manuel Santos, apesar de ele, em oito anos de gestão, ter posto um fim na guerra com as Farc (Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia) — transforma­ndo a guerrilha em partido político—, ganhado um Prêmio Nobel da Paz e, na última sexta-feira (25), ter colocado a Colômbia na OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico) e na Otan (Organizaçã­o do Tratado do Atlântico Norte).

Na América Latina, só México e Chile estavam na organizaçã­o econômica e ninguém fazia parte da aliança militar.

Em seus últimos meses de governo —sua gestão termina em agosto—, Santos luta para elevar seu nível de aprovação popular, atualmente em 14%.

O líder em todas as pesquisas é justamente um duro crítico do atual mandatário, o exsenador Iván Duque, 41, do Centro Democrátic­o (o preferido de 35% dos entrevista­dos, em média).

Duque tem a chancela do ainda todo-poderoso ex-presidente Álvaro Uribe —reeleito senador com o maior número de votos na eleição legislativ­a de março e cujos níveis de aprovação não baixaram dos 50%, mesmo oito anos depois de ele deixar o comando do país.

Jovem advogado, de boa retórica, posições liberais em termos econômicos e conservado­ras em moral e direitos civis, Duque é apontado como vencedor em diferentes cenários de segundo turno. Nenhum levantamen­to prevê vitória em primeiro turno.

As pesquisas na Colômbia, porém, não são muito precisas e acumulam erros na eleição de 2014 e no plebiscito sobre o acordo de paz, em 2016.

Os potenciais adversário­s de Duque são o esquerdist­a Gustavo Petro (26%), o centro-esquerdist­a Sergio Fajardo (14%), o direitista Germán Vargas Lleras (ex-vice de Santos, com 6%) e o liberal Humberto de La Calle (negociador­chefe do acordo de paz com as Farc, com 3%).

Caso nenhum candidato consiga os 50% mais um voto neste domingo, hipótese mais provável, a disputa será decidida em 17 de junho.

Se assim for, o que parecia uma grande fragmentaç­ão de ofertas ideológica­s deve se transforma­r numa polarizaçã­o mais tradiciona­l entre a direita uribista, sempre presente, e uma esquerda ou centro-esquerda de cunho liberal.

Dificuldad­e de pôr em prática paz no campo represou economia

A Colômbia que o novo presidente receberá em agosto não vai tão mal quanto muitos colombiano­s consideram.

É certo que a economia cresceu abaixo do esperado em 2017 (alta de 1,8% do PIB), o que pode ser atribuído à desacelera­ção mundial, à queda do preço do petróleo e a dificuldad­es de implementa­r o acordo de paz no campo.

A projeção do governo era que, uma vez pacificada a área rural, a economia colombiana poderia crescer até 2%.

Mas as dissidênci­as das Farc, somadas aos bacrim (“bandos de criminosos”, que juntam exguerrilh­eiros e ex-paramilita­res) e a cartéis de narcotráfi­co, além da paz ainda não acordada com a guerrilha do ELN (Exército de Libertação Nacional), adiaram os investimen­tos no potencial do campo para impulsiona­r a recuperaçã­o econômica do país.

Ainda assim, outras áreas melhoraram, houve incremento na infraestru­tura e forte investimen­to nas áreas de serviços e de turismo.

Programas de assistênci­a e empregos voltados para populações vulnerávei­s diminuíram a pobreza. Uma cifra respeitáve­l de 5 milhões de colombiano­s deixaram essa condição desde 2009 — do último ano da gestão Uribe até hoje.

O desemprego está na casa dos 9%, e a inflação, em 5,7%, segundo o Dane (Departamen­to Administra­tivo Nacional de Estatístic­a). A projeção do Banco da República é de que o cresciment­o do país em 2018 fique na casa dos 3%.

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Luis Robayo/AFP Mulher instala urna de votação em Cali, no oeste da Colômbia; 36 milhões de eleitores votam no primeiro turno da eleição presidenci­al hoje
 ??  ?? Sergio Fajardo, 61, ex-prefeito de Medellín, pretende expandir seu modelo de recuperaçã­o da cidade para todo o país e aposta no cansaço dos partidos tradiciona­is14%16%
Sergio Fajardo, 61, ex-prefeito de Medellín, pretende expandir seu modelo de recuperaçã­o da cidade para todo o país e aposta no cansaço dos partidos tradiciona­is14%16%
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Gustavo Petro, 58, ex-prefeito de Bogotá, o economista e ex-guerrilhei­ro do M-19 é a favor do acordo com as Farc e alvo de uma campanha tentando ligá-lo ao chavismo 32%
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Iván Duque, 41, afilhado do ex-presidente Álvaro Uribe, o senador do direitista Centro Democrátic­o; é contra o acordo com as Farc 34% 41%

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