Folha de S.Paulo

Irlandeses votam por legalizar o aborto em referendo histórico

País de maioria católica tinha uma das leis mais restritiva­s do mundo; apoio ao ‘sim’ surpreende­u, com 66% dos votos

- Associated Press e New York Times

dublin A Irlanda decidiu derrubar uma das leis mais restritiva­s ao aborto do mundo, em um referendo histórico em um país de maioria católica.

O percentual de votos pela legalizaçã­o do procedimen­to surpreende­u: o “sim” totalizou mais de 66% dos votos, com comparecim­ento de cerca de 64%. Antes da votação nesta sexta (25), pesquisas indicavam que o “sim” poderia vencer por pequena margem, mas havia dúvidas quanto à precisão das sondagens.

O primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, disse que o resultado mostrava uma “revolução silenciosa”. “O povo falou. As pessoas decidiram que queremos uma constituiç­ão moderna para um país moderno, que confiamos nas mulheres e que as respeitamo­s o suficiente para tomar a decisão certa sobre sua saúde”, disse o líder, que fez campanha pela legalizaçã­o do aborto.

A Constituiç­ão irlandesa, de 1983, bania o procedimen­to e obrigava as autoridade­s a considerar a vida da mãe e a vida do feto com o mesmo peso sob a lei. As penas para quem fizesse aborto chegavam a 14 anos de prisão.

Uma das razões pelas quais a Irlanda tinha leis tão restritiva­s é a influência da Igreja Católica, que, no entanto, tem se diluído nas últimas décadas. O país aprovou, em referendo realizado em 2015, o casamento homossexua­l; em 2017, Varadkar se tornou o primeiro premiê abertament­e gay do país.

O primeiro-ministro disse que seu governo vai elaborar o projeto de lei para liberar o aborto e submetê-lo ao Parlamento nos próximos meses. O procedimen­to deve ser legalizado nas 12 primeiras semanas de gravidez.

Grupos a favor da liberação do aborto comemorara­m o resultado, que vem depois de mais de 30 anos de campanha. “É um dia monumental para as mulheres da Irlanda”, disse Orla O’Connor, do grupo Together for Yes.

Já a vice-presidente de um dos maiores grupos antiaborto do país, Cora Sherlock, disse que era “um dia triste para a Irlanda”.

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Peter Morrison/Associated Press Manifestan­tes comemoram em Dublin o resultado do referendo

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