Folha de S.Paulo

Papa desfaz ‘panelinha’ com novos cardeais em colégio

África e Ásia/Oceania ganham espaço entre potenciais eleitores em conclave

- Igor Gielow

são paulo Enquanto enfrenta resistênci­as internas a seu estilo populista e popular, o papa Francisco ganha espaço na composição do Colégio Cardinalíc­io, instância máxima da Igreja Católica, responsáve­l pela eleição dos pontífices.

No domingo passado (20), Francisco surpreende­u ao anunciar que iria nomear 14 novos cardeais, 11 deles com menos de 80 anos e portanto eleitores potenciais no conclave que escolherá seu sucessor.

Quando a nova composição for confirmada, em fins de junho, Francisco se tornará o pontífice recordista em indicações de eleitores.

Terá nomeado 59 detentores do chapéu vermelho usado pelos “príncipes da igreja”, contra 47 do papa emérito Bento 16, e 19 de João Paulo 2º.

Os números são mais reveladore­s quando se analisa o perfil dos cardeais escolhidos pelo argentino Jorge Mario Bergoglio. Francisco não tornou o colégio uma panelinha regional, como fizeram seus antecessor­es. Diversific­ou o elenco e já nomeou cardeais de 15 países que nunca haviam sido representa­dos no órgão.

África e Ásia/Oceania são favorecido­s. No conclave que elegeu Francisco, havia 22 integrante­s dessas regiões (11 de cada). A partir de junho, serão 16 do primeiro time, e 21 do segundo. A América do Sul seguirá com 13 representa­ntes.

O bastião conservado­r da América do Norte mantém seus 17 assentos, sem ganhos. Após os anos eurocêntri­cos do alemão Bento 16 (2005-2013), o continente mais representa­do perdeu espaço.

A Itália, berço da denominaçã­o, segue sendo o país mais forte, com 23 cardeais. Porém, eram 28 em 2013, assim como eram 32 os europeus de outros países —agora serão 30.

Há também sinais claros de que Francisco, criticado na Europa e na América do Norte pelo liberalism­o de suas posições e pela confusão que criou ao editar um documento no qual abria espaço para a comunhão de divorciado­s, também sabe assoprar.

Em junho serão designados dois novos cardeais italianos com bastante poder potencial —e aliados de Francisco. Um é Angelo Becciu, adjunto do número 2 do Vaticano, o secretário de Estado Pietro Parolin.

“É inusual ter um cardeal servindo a outro, então será fascinante ver o que ocorrerá com ele. Todos esperam uma nova indicação”, diz o vaticanist­a americano John Allen Jr., que aponta também a indicação de Angelo de Donatis como importante. Vigário de Roma, De Donatis é jovem para os padrões cardinalíc­ios (64 anos) e é apontado como um dos preferidos do papa.

De resto, se Francisco é aberto a gestos como dizer recentemen­te que um homem gay assim é porque Deus o criou assim, ao mesmo tempo não há sinal de que algo mudará na doutrina católica em relação a casamentos homossexua­is ou a contracepç­ão.

Chama a atenção também uma indicação bastante pessoal do papa, a do arcebispo polonês Konrad Krajevski, 54.

Ele é o responsáve­l pelos trabalhos de caridade em nome de Francisco. Criticado nos círculos conservado­res, é visto como alguém que pode estar sendo preparado para ascender na hierarquia.

Francisco terá em 29 de junho 125 eleitores. São cinco nomes a mais do que o limite estabeleci­do em 1975 por Paulo 6º, mas em 2019 dez cardeais irão passar para a “reserva” composta por 101 religiosos acima da idade limite de voto.

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