Arnaldo Antunes une samba e rock sem fusão
‘Quis mais contrastar as coisas do que misturá-las’, diz o músico, que alterna os dois gêneros nas faixas do novo álbum
são paulo O CD chega às lojas no início de junho, mas já está nas plataformas digitais “RSTUVXZ”, o novo álbum de Arnaldo Antunes. As duas primeiras letras do título dão a dica para entender o projeto: R de rock e S de samba. Mas ninguém deve esperar o cantor e compositor tentando fundir esses gêneros.
“Eu quis mais contrastar as coisas do que misturá-las”, diz Arnaldo à Folha. “Não procurei um ritmo híbrido, como o samba-rock. São sambas e rocks alternados nas faixas, gravados praticamente com a mesma formação. Mas do meio do disco para frente há uma abertura para outras coisas. Tem samba-reggae, soul music e acaba com uma canção de ninar, para apaziguar todo esse atrito musical.”
Arnaldo diz que chegou ao conceito do disco antes da gravação. Estava com rocks “frescos”, pegando como exemplo “O Céu Contra o Muro”, parceria recente com o também exTitã Paulo Miklos.
Além disso, acumulava muitos sambas feitos com amigos, como Cézar Mendes, Marisa Monte e Carlinhos Brown. “A Samba”, canção dedicada a grandes nomes femininos do gênero, ele compôs já com a ideia do disco concebida.
Assim, ele diferencia o novo álbum de trabalhos anteriores que vê como coletâneas de canções. Arnaldo coloca “RSTUVXZ” ao lado de dois outros discos “conceituais” que gravou.
“Um é ‘Qualquer’ (2006), que veio com a ideia de tirar a bateria e deixar só instrumentos de corda e piano. Já ‘Iê Iê Iê’ (2009) fazia uma releitura do gênero”, recorda.
“Agora, veio esse. Uma vez tive vontade de fazer um disco chamado ‘Bipolar’, que se fosse no vinil teria um lado de sambas e outro de rocks. Eu me lembrei desse projeto e retomei a ideia.”
Arnaldo tentou buscar levadas diferentes dentro de cada gênero. “Vejo ‘O Céu Contra o Muro’ meio Pink Floyd, viajante. ‘Pense Duas Vezes’, parceria com Marcelo Jeneci e Ortinho que cada um deles já tinha gravado, é um iêiê-iê. E vou até um hard rock em ‘Se Precavê’, quase punk”, comenta Arnaldo. Esta última é parceria com o amigo Titã Marcelo Fromer (1961-2001).
A ficha técnica do álbum tem nomes familiares. Literalmente. A filha Celeste participa dos vocais, e Arnaldo divide composições com o filho Brás, em “Quero Ver Você”, e com a mulher, Marcia Xavier, em “Orvalhinho do Mar”, cantada pelos dois. “Quem anda junto acaba virando parceiro, como o tecladista André Lima, que escreveu comigo ‘Eu Todo Mundo’. A gente mistura os afetos com o trabalho.”
Além de músicos convidados em algumas faixas, o time que gravou “RSTUVXZ” é o que acompanha Arnaldo há tempos. Além de André Lima, estão no projeto Betão Aguiar (baixo, violão), Chico Salem (guitarra e violão), Curumin (bateria, percussão e programações) e Edgard Scandurra (guitarra e violão).
Shows serão no Circo Voador em junho e no Sesc Pompeia em julho
A estreia do show “RSTUVXZ” será no Rio, em 16 de junho, no Circo Voador, e em São Paulo, no Sesc Pompeia, no primeiro final de semana de julho.
O grupo das gravações do álbum estará no palco, com a provável exceção de Edgard Scandurra. “Fica complicada a agenda, com o trabalho dele no Ira! e na carreira solo”, conta Arnaldo Antunes, que antecipa suas ideias para complementar o repertório do show.
“De sambas, já pensei em incluir ‘Alegria’, ‘Carnavália’ e ‘Talismã’, essa que é minha parceria com Paulinho da Viola e Marisa, que ele gravou. Pensei em colocar minha versão de ‘Exagerado’, que é um rock que eu reli como bossa nova em ‘Paradeiro’. E alguns rocks da minha carreira.”
Depois dessas apresentações, Arnaldo passa a se dedicar aos ensaios com os Tribalistas. O trio faz shows em estádios brasileiros em agosto e setembro, antes de tocar na Europa até novembro. Assim, a turnê integral de “RSTUVXZ” só virá no ano que vem.
RSTUVXZ
Arnaldo Antunes, selo Rosa Celeste/ Pomm_elo, nas plataformas digitais