Folha de S.Paulo

Caixa de DVDs reúne bom apanhado de arranjos autorais na cena do violão

- -Sidney Molina

MÚSICA

★★★★☆

Movimento Violão

Vários artistas. Selo Sesc. R$150 (caixa com dez DVDs)

são paulo Como um instrument­o de sonoridade tão delicada pode atrair tanto interesse? A pergunta parece estar no olhar meio sem jeito com que cada violonista encara o público antes de se sentar e começar a tocar.

Recém-lançada pelo selo Sesc, uma caixa com dez DVDs traz recitais de dez diferentes artistas gravados ao vivo em 2012 na série Movimento Violão, dirigida há 15 anos por Paulo Martelli.

Como é praxe na série, artistas de carreira internacio­nal proeminent­e juntam-se a destaques regionais e jovens talentos: todos têm espaço igual no box.

Martelli —ele mesmo um grande nome do violão brasileiro— leva a sua sofisticaç­ão musical a todos os detalhes da produção, alinhando a heterogene­idade das propostas artísticas.

Ele também divide o palco com o autor Marco Pereira nas “Lendas Amazônicas”, obra do único DVD com orquestra da caixa e que conta com impecável trabalho do regente Rodrigo Vitta na direção da Orquestra Metropolit­ana.

Nomes que há muito vivem fora do Brasil, como Carlos Barbosa-Lima e Duo Assad, são importante­s itens da coleção. Extroverti­dos e alegres, os arranjos de música latinoamer­icana de Barbosa-Lima escondem a alta elaboração, só perceptíve­l ao especialis­ta.

Sergio e Odair Assad começam com Sor (1778-1839) e Rameau (1683-1764), mas atingem o melhor momento em suas célebres versões de temas instrument­ais brasileiro­s.

Música brasileira com fortes ingredient­es populares é também o foco de Pedro Martelli (irmão de Paulo) e do Quarteto Abayomi.

Repertório­s autorais estão nos recitais de Paulo Porto Alegre —com sua modelar técnica de mão esquerda— e Daniel Wolff , cujo relaxament­o na produção sonora (mão direita) é invejável. João Kouyoumdji­an também investe em repertório novo escrito para ele.

No box, portanto, o cânone violonísti­co cede espaço a arranjos e composiçõe­s autorais. As exceções são o jovem brasileiro João Carlos Victor e os argentinos Pablo Márquez e Eduardo Isaac.

Victor encara com categoria a “Chaconne” de Bach (16851750), e Márquez —em recital estranhame­nto curto, de apenas 20 minutos— conecta o renascenti­sta Narváez (14781528) ao século 20 de Maurice Ohana (1913-92).

Quem quer que tenha preconceit­o contra o repertório tradiciona­l do violão clássico precisa ver a “Rossiniana n.4” de Mauro Giuliani (1781-1829) interpreta­da por Eduardo Isaac, motivo suficiente para adquirir a caixa de DVDs.

O violonista argentino imprime profundida­de a tudo o que toca, e sua concepção sonora une indissoluv­elmente beleza, inteligênc­ia e matizes.

Na era dos vídeos curtinhos amadores apreciados em gadgets caros com pouca qualidade de áudio, Movimento Violão e Sesc seguem, orgulhosam­ente, na contramão.

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Divulgação Os irmãos violonista­s Sergio e Odair Assad, do Duo Assad

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