A seleção brasileira em cirílico
Estreante em Copas, a União Soviética e 51 mil sortudos suecos viram alguns dos minutos mais espetaculares da história dos Mundiais, do futebol brasileiro e de Garrincha
O estádio Nya Ullevi, de Gotemburgo, recebeu cerca de 51 mil pessoas para a partida entre Brasil e União Soviética, pela rodada final do Grupo 4 do Mundial de 1958. Para um jogo de primeira fase? Sem o envolvimento do time da casa? Está aí algo raro.
Os apaixonados por futebol que tomaram a decisão de ir ao jogo não poderiam ter recompensa maior: assistiram a um dos momentos mais importantes da história das Copas do Mundo.
Exagero? Não para quem viu os avassaladores três primeiros minutos de partida, com os soviéticos já desnorteados. Era a estreia da dupla Pelé-Garrincha no torneio, para acompanhar Vavá e Zagallo numa linha ofensiva explosiva.
O resto foi história. Depois de o legendário Lev Yashin ver a bola explodir duas vezes na trave, Vavá abriu o marcador aos 3 minutos, completando lançamento de Didi. Foi um domínio absoluto.
Completamente à vontade, Garrincha 1 fez das suas no segundo tempo, chamando o lateral Kuznetsov para dançar, com movimentos quase delirantes: fingia que partiria para a arrancada, mas travava a passada, enquanto a bola seguia estática.
O técnico Gabriil Kachalin teve de apelar e por mais dois defensores na cobertura.
Sortuda, a plateia se divertia, enquanto a imprensa europeia notava que algo havia mudado na ordem da Copa: para eles, havia sido uma exibição “assombrosa”.
Gentileza
Ficaram todos impressionados com a exibição brasileira. Inclusive os soviéticos, que visitaram o hotel dos brasileiros no dia seguinte à derrota para elogiar os oponentes. Foram muitas brincadeiras entre eles.
Já o zagueiro Kesarev estava preocupado em se desculpar com Vavá, depois de ter aberto enorme corte na perna do centroavante.
Só resta saber como todos se comunicaram.
Sem parar
Durante algumas semanas no verão sueco, registre-se, Brasil e União Soviética fizeram fronteira. Uma concentração ficava do lado da outra.
Do seu hotel, os brasileiros conseguiam observar o quanto seus adversários do Leste europeu se dedicavam à preparação física. Nunca haviam visto jogadores de futebol correrem tanto daquele jeito.
Bye, bye
Se a estreante União Soviética, envolta por mistério, não mostrou um futebol tão poderoso assim na Copa de 1958, ao menos lhes coube a tarefa de ser mais uma seleção a despachar cedo a “favorita” Inglaterra.
Lembremos: os ingleses eram aqueles que demoraram a aceitar participar do Mundial de 1958 por se considerarem muito superiores à concorrência.
Em jogo de desempate pa- ra definir o segundo colocado do Grupo 4, a seleção do país comunista venceu por 1 a 0 e avançou às quartas de final. Depois seriam eliminados pela Suécia.
Nem mesmo o preparo físico primoroso dos soviéticos lhes valeu contra o time da casa, que tocava a bola com muita paciência, de um lado para o outro.