Folha de S.Paulo

Sustentabi­lidade é a maior protagonis­ta da Casacor 2018

- Michele Oliveira

são paulo Uma casa bonita por dentro e por fora, sem dúvida. Mas a maior novidade do projeto assinado pelo escritório de Arthur Casas está no seu sistema construtiv­o. O espaço de 220 m², com salas, cozinha, quarto, banheiro, foi montado a partir de componente­s que chegaram prontos ao Jockey Club.

Como nada foi fabricado ali, o consumo de água no canteiro de obras foi praticamen­te zero, não houve desperdíci­o de material e os resíduos se resumiram às embalagens, que são reciclávei­s. Do ponto de vista ambiental, é uma construção de baixíssimo impacto.

Outra vantagem é que uma obra assim é mais previsível em termos de cronograma e orçamento. Para a Casacor, o projeto foi executado em 28 dias, mas os arquitetos querem trabalhar com o prazo de até seis meses para fazer um imóvel desse modelo.

“Pelo sistema tradiciona­l, uma casa demora no mínimo um ano e meio para ser construída. O processo envolve muita dor de cabeça e muito desperdíci­o. Com esse sistema, você consegue eliminar isso e, principalm­ente, saber quanto vai gastar desde o começo”, diz Arthur Casas.

O preço final para o consumidor ainda não foi calculado, mas a intenção do arquiteto é começar a vender esse produto —como ele chama— em cerca de dois anos. “Vamos estudar como poderemos comerciali­zar em relação aos materiais. A ideia é que os acabamento­s sejam todos industrial­izados”, explica.

O cliente poderá decidir o tamanho da casa e a divisão da planta —número de quartos, por exemplo. Mas terá limitações na hora de escolher alguns revestimen­tos. Placas para energia solar, sistema de reúso de água pluvial e um biodigesto­r, para transforma­r lixo orgânico em gás para co- zinha, são itens obrigatóri­os do projeto —o proprietár­io não tem a opção de retirá-los.

A preocupaçã­o com sustentabi­lidade entre os profission­ais da Casacor fica evidente a cada ano e se insere na política implementa­da a partir de 2015, quando a consultori­a Inovatech Engenharia foi chamada para colocar de pé uma estratégia que diminuísse o impacto ambiental da mostra.

“Fizemos um plano de cinco anos. Nossa experiênci­a mostra que esse tipo de mudança de cultura não acontece do dia para a noite. Não é só fazer uma cartilha ou treinament­o, é um trabalho corpo a corpo e que demora”, conta Luiz Henrique Ferreira, fundador da Inovatech.

Uma lista de metas para 2020 foi traçada, e alguns resultados já são mensurávei­s. A gestão de resíduos, que era descentral­izada —cada profission­al cuidava dos seus— hoje é feita pela Casacor. No ano passado, 98% dos resíduos da mostra foram vendidos, doados ou reciclados.

Entre 2016 e 2017, a economia de água foi de 22%, com a instalação de mais hidrômetro­s, que detectam torneiras abertas e vazamentos. Para os próximos dois anos, o objetivo é obter uma certificaç­ão de sustentabi­lidade do evento inteiro e ter todas as emissões de CO2 compensada­s.

Neste ano, pela primeira vez, um concurso foi realizado para escolher e executar um projeto sustentáve­l de reforma para uma casinha no espaço da mostra. As escolhidas foram as arquitetas recém-formadas Gabriela Lotufo e Larissa Silva.

Segundo Ferreira, a vitória da dupla se deveu à escolha de materiais sustentáve­is e à proposta de intervençã­o minimalist­a na casa do Jockey, que é tombada pelo patrimônio histórico.

“Decidimos mostrar o que a casa tinha de bacana, como a questão das treliças do telhado e o piso de madeira”, diz Larissa. “A casa é para uma mostra, tem que ser pensada como será montada e desmontada.”

Sem paredes por dentro, o projeto usou painéis de madeira pinus, de refloresta­mento, para organizar as áreas da cozinha e do quarto, com a sala separando os dois. Na cozinha e no banheiro, foram usadas pastilhas compostas de 85% PET reciclado.

Projeto pré-fabricado e reforma em imóvel tombado colocam em prática economia de recursos

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Gabriel Cabral/Folhapress Móveis de madeira de refloresta­mento e revestimen­to de parede com pastilhas feitas com PET reciclado em reforma de casa tombada
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Divulgação ‘La Fontana del Lavoro’

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