Folha de S.Paulo

Gasolina acaba em 99% dos postos de SP; ladrão fura tanque de carro e furta combustíve­l

- Colaborou o Agora

são paulo O impacto maior em São Paulo da paralisaçã­o dos caminhonei­ros pelo país, que chegou neste sábado (26) ao sexto dia, foi sentido nos postos de combustíve­l.

O desabastec­imento deu a tona: os estabeleci­mentos que ficaram abertos na cidade tinham apenas estoque de gás (GNV). Segundo o Sincopetro (sindicato do comércio de derivados de petróleo do estado), 99% dos postos estavam sem gasolina, etanol e diesel.

Em reunião que discutiu os reflexos dos atos dos caminhonei­ros na cidade, o Comitê de Gerenciame­nto de Crise da Prefeitura afirmou à tarde que o estoque de combustíve­l para manter serviços essenciais, como transporte coletivo e a Guarda Civil, deve durar até segunda-feira (28). Para coleta de lixo e serviço funerário, porém, só haveria estoque para até domingo (27) à noite.

A prefeitura informou que o programa Ruas Abertas só funcionará neste domingo na avenida Paulista. Segundo o prefeito Bruno Covas (PSDB), a restrição visa racionaliz­ar o uso das equipes da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). O tucano descartou, em entrevista, decretar feriado ou ponto facultativ­o na capital paulista na segunda.

O fotógrafo Fabio Piva, 39, viveu uma cena insólita ao sair na madrugada com sua Pajero TR4 na zona norte: o carro, que havia sido abastecido na quinta, estava sem gasolina. Com ele no guincho, Piva descobriu um furo no tanque —o combustíve­l foi furtado.

O desabastec­imento de combustíve­is atingiu também outras capitais, como Salvador e Curitiba. Dos 150 postos da capital baiana, só um tinha gasolina e etanol no meio da tarde —com exclusivid­ade para abastecer ambulância­s, carros oficiais e da polícia. No estado, os 2.800 postos estavam com o estoque praticamen­te zerado.

Em várias cidades, o transporte público foi afetado pela falta de combustíve­l. No Rio, o sistema BRT só começou a circular, e parcialmen­te, às 17h, depois de a Polícia Militar escoltar caminhões-tanque para abastecer os veículos.

Neste domingo, impactos ainda serão sentidos. Em Belo Horizonte, os ônibus não circularão, para, segundo a prefeitura, garantir que rodem na segunda. Porto Alegre também deixará os coletivos na garagem —e, em contrapart­ida, vai permitir que lotações transporte­m passageiro­s em pé e incentivar o compartilh­amento de táxis. Na segunda, os ônibus circularão, a princípio, só entre as 6h e as 8h30.

A preocupaçã­o se estende ao setor de saúde. A Associação de Hospitais Privados diz que, se o abastecime­nto não se normalizar, pronto-socorros correm o risco de fechar no início da semana.

Gases medicinais estão com estoques limitados, o que afeta cirurgias, pacientes internados em UTI e atendiment­os de emergência. A alimentaçã­o de pacientes já precisa de adaptações, uma vez que há dificuldad­e na compra de alimentos frescos.

Nos aeroportos, o sábado foi complicado: se grandes terminais, como os de São Paulo e Rio, funcionara­m normalment­e —Congonhas tem estoque de querosene para até segunda—, ao menos 13 operaram com restrições (incluindo Recife e Goiânia).

Em Brasília, 40 voos foram cancelados até o começo da manhã; à tarde, o aeroporto recebeu quatro caminhões de combustíve­l —suficiente­s para “operação contengenc­ial”.

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