Comédia de erros
Crédito barato para comprar caminhão provocou excesso de oferta e reduziu frete
Logo após a crise de 2009, os formuladores de política econômica passaram a estimular a compra de caminhões com empréstimos subsidiados do BNDES. Achava-se que seria política
contracíclica eficaz para ajudar a economia a sair da crise iniciada em 2008. O programa de crédito muito barato persistiu até o primeiro mandato da presidente Dilma. De 2009 até hoje a frota de caminhões aumentou 40%.
A economia, no mesmo período, cresceu 11%.
Não havia necessidade de tanto caminhão.
Evidentemente, o excesso de oferta de caminhões pressiona
o frete para baixo.
A situação é especialmente difícil para o motorista autônomo. Os grandes operadores expandiram muito a oferta e podem contratar outros motoristas. Mesmo porque o mercado de trabalho muito fraco,
com elevado desemprego, facilita as coisas para os grandes operadores. A movimentação de veículos pesados nas estradas pedagiadas
encontra-se quase
12% abaixo do pico de fevereiro de 2014.
As montadoras, por sua vez, trabalharam anos a plena carga para, em seguida, ficar anos com elevada ociosidade.
Em que pesem todos os estímulos para a compra de caminhões entre novembro de 2008 e novembro de 2013, a
produção de caminhões excedeu os licenciamentos domésticos e a exportação em 40 mil
unidades.
É claro que a reversão de ce
nário foi brutal. Para as montadoras
e para os caminhoneiros. O governo, na tentativa de amenizar a situação para os
caminhoneiros, reduziu o pedágio em 2015, quebrando contra
to com as concessionárias de
rodovias. Tudo está na Justiça. Entrementes as economias centrais vão se recuperando do
estrago da crise de 2008, e os juros de dez anos pagos pelos títulos do Tesouro americano sobem e ultrapassam a marca
fatídica de 3% ao ano. O real e demais moedas das economias emergentes perdem valor. Simultaneamente, os problemas da Venezuela e as “trumpices” com o Irã pressionam o preço do petróleo em um momento de real fraco. O preço do petróleo em reais explode. Não há muito espaço para que a Petrobras não repasse os aumentos, pois ela foi muito machucada no período das vacas gordas para a economia brasileira, durante o qual foi instrumentalizada e mal gerida. Precisa reduzir seu endividamento.
A péssima situação fiscal e a incapacidade de Temer em aprovar a reforma da Previdência após o evento Joesley obrigam o governo a procurar receita onde dá. Eleva-se a tributação dos impostos federais sobre gasolina e óleo diesel.
Em meio a uma recuperação
frustrada da economia, os fretes, pressionados pelos custos do diesel, nas rotas agrícolas, subiram de janeiro até abril algo como 40% em termos reais. Em geral, nessa época do ano, os fretes agrícolas sobem uns 20%. Caminhões perdem espaço
para ferrovias, o que não é ruim. Mas com tanto caminhão...
Um conjunto incrível de intervenções totalmente desastradas explica movimento grevista muito rápido e que desorganizou a vida das pessoas como poucas vezes ocorreu. Bom momento para nós voltarmos à agenda que estava posta em 2002: construirmos as condições para que a regulação do setor de comercialização dos subprodutos do petróleo ocorra de forma competitiva por empresas privadas.
Será necessário privatizar
com sabedoria o setor de refino. Melhorar o marco regulatório e criar condições para que o comércio internacional ajude a disciplinar o mercado.
Para esse setor, no Brasil, as falhas de governo ultrapassam as falhas de mercado por larga margem.