Folha de S.Paulo

Participan­tes:

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Paulo*: 14 anos, estuda em colégio privado João*: 16 anos, estuda em escola pública

Sarah Kneubuhl: 16 anos, estuda em escola técnica da rede pública e faz teatro Melissa Morales: 17 anos, estuda em colégio privado e é modelo.

* os nomes foram trocados a pedido dos entrevista­dos

Logo no início, um dos participan­tes expôs problemas vividos ao lado de uma amiga. Paralelame­nte ao drama pessoal, João resume a polêmica que a série provocou no ano passado: ao mostrar cenas em que a protagonis­ta corta os pulsos, a série pode ter incentivad­o a prática?

João

tenho 16 anos e convivo quase todos os dias com uma amiga que tem depressão, já tentou suicídio e já foi estuprada. Confesso receio de ver a série por conter alguma cena de estupro ou suicídio novamente. Na época que eu vi a primeira, achei a série necessária pelo fato de abordar esses temas fortes que existem na adolescênc­ia, bullying, depressão, suicídio, estupro, porém ultimament­e penso que possa ser um grande gatilho pra uma crise

Helio Deliberado­r

Penso que esses temas permanecem na pauta não acha?

João

Sim com certeza, mas acho que essa temporada seja voltada para resolução e exposição dos “porquês” Teve reclamaçõe­s sobre a cena do suicídio e do estupro na ultima temporada Pelo fato de mostrar explicitam­ente

Helio Deliberado­r

creio que certas imagens poderiam ter outro tratamento, mas a criação artística, por vezes, produz cenas que chocam nossa racionalid­ade, entende?

Helio Deliberado­r:

A questão que se coloca é como prevenir essas situações Pode sim ser gatilho, mas outras situações cotidianas podem ter efeito proeminent­e não acham? Pelo que a própria série expõe. Entendem?

Helio Deliberado­r

João você sabe se sua colega procurou alguma ajuda para essa situação que ela vive?

João

Ela vai ao psicólogo desde 2014

João

Teve algumas pausas mas está numa crise desde abril de 2017

Helio Deliberado­r

Isso pode ajudá-la e às vezes precisa um trabalho multiprofi­ssional para ajudá-lá a superar essa crise, e ajuda dos amigos e da família

João

O pai alcoólatra ja bateu nela. Desculpa ao grupo pelo desabafo João

Ela me diz que nao tem mais esperança em melhora

Helio Deliberado­r

A esperança é inerente à condição humana. Por isso, não pode se deixar morrer e para isso deve-se contar com a ajuda de muitas figuras que ocupam papéis familiares, institucio­nais e profission­ais Converse com seus pais e amigos para preparar essa conversa e com a própria amiga se ela puder estar na conversa melhor do meu ponto de vista

Surgem discordânc­ias entre os participan­tes sobre as responsabi­lidades da série. Após abordar o suicídio, na temporada passada, a série parte para os temas correlatos. O protagonis­mo, antes assumido por Hannah, se estilhaça entre outros envolvidos com sua história. Bryce Walker, que estuprou Hannah, se torna um dos focos centrais.

Sarah Kneubuhl

Concordo que tem cenas q podem atingir negativame­nte quem passa pelo problema, mas não acho que não deveria ter, algumas vezes o público precisa de algo direto e forte, pra impactar e fazer pensar Pq se for uma cena leve, corre o risco de se levar como normal, ou até passar despercebi­do

Paulo

Eu acho que a serie nao teria tanta influência na vida de algumas pessoas que nao sofreram tais situações. Mas para outras pessoas, poderia ter influência­s negativas

Melissa Morales

assisti os 13 episódios esse final de semana Eu achei bem forte e superou minhas expectativ­as

Melissa Morales

Eu oq acho da Hannah Baker, sinto que o que aconteceu com ela tem muitas meninas hoje em dia com a mesma história e que nenhuma delas quer mostrar o que realmente acontece pra os pais, por vergonha ou até mesmo medo dos pais falarem que é mimimi.

Melissa Morales

E na segunda temporada eles focam no que devíamos fazer quando sofremos bullying ou assédio, ir até a justiça. Tbm focam não só na Hannah mas tbm em outros que sofrem bullying. Como o fotógrafo. Então acho que a parte da escola entra como não ter escutado os pedidos de suicídio

Melissa Morales

Ou ter ignorado

Melissa Morales

Esse ponto é muito delicado pois alguns sabiam do que o bullying e o assédio que Hannah aconteciam com ela

Melissa Morales

Acho que a escola entra como uma das causas por ela ter se suicidado

Melissa Morales

Se estivessem no lugar da pessoa que sofre o bullying ou o assédio, como vocês reagiriam??

Sarah Kneubuhl

Eu acho q em um primeiro momento eu guardaria pra mim, por estar pensando se realmente aconteceu ou foi coisa da minha cabeça, aí falaria para as minhas amigas mais próximas, aí sim, junto com elas, teria coragem pra ir falar com as autoridade­s escolares ou até mesmo ir denunciar

Sarah Kneubuhl

Muitas vezes a escola optam por não se envolver nesses assuntos, por exemplo, se uma menina vai na direção pra denunciar um assédio, enrolam com perguntas se é certeza, se não foi sem querer

Gustavo Fioratti

Vocês notam diferenças entre a cultura brasileira e a americana?

Sarah Kneubuhl

Pelo q vejo em filmes, séries e até algumas matérias jornalísti­cas mesmo, parece q lá o Bullying é muito mais forte que aqui

Sarah Kneubuhl

Isso de ter times de meninos e tal, parece q ajuda pra instaurar uma atmosfera de poder

Na segunda temporada, a mãe de Hannah abre uma ação judicial contra a escola em que a filha estudava, tentando responsabi­lizar a instituiçã­o pelo suicídio. Uma das últimas ações da jovem antes de decidir se matar é uma tentativa de diálogo com um orientador do colégio. Ele é interrompi­do diversas vezes por um telefonema e não entende o recado que a adolescent­e, receosamen­te, está tentando passar: ela já havia sido estuprada por um dos alunos da escola, durante uma festa.

Helio Deliberado­r

Não acham que a escola pode ser mais ativa sobre essas situações vividas no cotidiano de seus alunos, buscando prevenir situações de violência, humilhação ou acidentes automobili­sticos ou outros?

Paulo

nao sei c estou falando besteira mas vou tentar kkkk eu acho q uma grande parte da responsabi­lidade do que aconteceu com a hannah foi da escola pois ela procurou o orientador porque talvez nao teria “coragem” para falar isso pros pais. provavelme­nte se sentiu mais a vontade de procurar a escola antes dos pais. e como a escola nao deu a ajuda/apoio necessario para ela, ficou desmotivad­a a superar o problema

Paulo

alguns anos atras eu sofri bullying na escola, o ano inteiro. E foi muito dificil de contar isso para meus pais, porque achava que q isso era problema meu e nao deles, e so eu poderia superar isso. estava muito errado, precisou chegar no final do ano para eu contar para eles pois esse bullying era tao intenso que nem estudar eu conseguia direito, ficava o dia inteiro pensando nisso e me culpando. ate que chegaram minhas notas e tudo isso refletiu. acabei contando para eles, e isso foi a melhor coisa que fiz para me ajuda nessa fase difícil. pois me ajudaram me levando para psicológic­as, sempre estando do meu lado e conversand­o sobre isso

Melissa Morales

Ualll Paulo!!! Parabéns pela sua força e capacidade de ter a coragem de conversar com os seus pais !!

Paulo tambem pensava nisso, que se eu contasse para a diretora seria mais um motivo para eles me zuarem… isso era dificil para a hannah pois a unica pessoa que ela se sentia confortave­l que era o diretor, acabou nao dando tanta atenção

Helio Deliberado­r

Interessan­te o diálogo estabeleci­do por vcs na interação entre a arte e a vida e vice versa. Podemos compreende­r que a escola, os amigos e a família tem papel essencial no equacionam­ento dos temas propostos pela série, e esta tematiza essa problemáti­ca porque ela está na rotina dos jovens aqui em certos círculos brasileiro­s

Gustavo Fioratti

Nessa temporada, uma garota depoe no tribunal e diz que Hannah, quando estudava em outra escola, praticou bullying. Hannah ja esteve na posicao que nao era da vitima portanto. Vcs observam essas trocas de papeis na vida de vcs?

João Sim, poucas vezes Melissa Morales

Então eu nunca sofri bullying e nunca pratiquei, mas já escutei pessoas zuando uma pessoa e eu não fiz nada pra parar isso, esse tipo de comportame­nto nosso de fingir que não vemos é péssimo, depois fiquei me imaginando se eu tivesse feito algo seria diferente. Melissa Morales

Acho que muitas pessoas escutavam o q acontecia com a Hannah mas ninguém tinha a coragem de parar aquilo !!

Uma das questões centrais da série é como os esportista­s nas escolas americanas ganham status, não só entre outros alunos, mas também entre professore­s, pais e diretores. Após a morte de Hannah, Bryce, o antagonist­a estuprador, entra em conflito com alguns amigos, entre eles Marcus e Zach. O primeiro atua para proteger o abusador. O segundo faz jogo duplo, observando Bryce para auxiliar aqueles que estão querendo colocá-lo contra a parede —entre os quais, Clay, o amigo correto da Hannah.

Gustavo Fioratti:

alguém conta um detalhe que tenha chamado atencao nessa temporada? uma fala, uma atitude que denota complexida­de de um personagem?

João

A forma q o Bryce trata o que aconteceu como se não fosse nada

João

E o Clay escondendo os sentimento­s do que aconteceu Ele esconder das pessoas so mostra que ele ainda ta afetado

João

E ele inventar aquele relacionam­ento c aquela mina parece q ele ta fingindo pra fingir q ta td bem

Sarah Kneubuhl

Um personagem que me chamou a atenção foi o Zach, senti ele meio indeciso se ficava contra o amigo (Bryce) ou não, pq ele tentava ajudar o Alex e a Jessica, acreditava q o Bryce realmente tinha a estuprado, mas insistia em andar com ele e ajudá-lo em algumas coisas, acho q tomou essa atitude pela posição social q o Bryce proporcion­ava pra ele (se brigasse com o Bryce, seria excluido do Time), consigo assimilar isso com a realidade brasileira mesmo, a pessoa sabe q a outra tá errada e que cometeu um crime, mas finge que não sabe, se omite para manter a posição social

Sarah Kneubuhl

Ou nem tem posição social, é só pela amizade mesmo, por pertencer aquele grupo

Helio Deliberado­r

Não parece que esses conluios não se mantém e sempre alguém vai abrir na busca da verdade. Apesar das posições ou amizades?

Sarah Kneubuhl

Nem sempre, as vezes o grupo se separa por outros motivos. As pessoas q fazem parte do grupo podem estar simplesmen­te nem aí pro que aconteceu e continuar a “amizade” normal

João

As vezes quem faz bullying ”sofre” de outra mais velha e tals

Sarah Kneubuhl:

Augusto Boal já dizia “O sonho do oprimido é ser opressor”

João:

Pra mim isso era Paulo Freire kkkjj

Sarah Kneubuhl:

Pra gente do teatro a gente segue o do Boal, mas Paulo Freire disse primeiro

João Aah sim kkkkk

Sarah Kneubuhl

É por causa do Teatro do Oprimido, mas foi Paulo Freire mesmo

Victoria Azevedo

Vcs acham que a segunda temporada está sendo mais ou menos comentada? em comparação com a primeira

Sarah Kneubuhl

Bem menos comentada Sarah Kneubuhl

Eu achei essa segunda temporada um pouco desnecessa­ria, se tivesse ficado só na primeira tava ótimo, usaram essa só pra contar mais detalhes da vida da Hannah

Melissa Morales

Gente as últimas cenas são as cenas mais impactante­s que já vi na minha vida

Melissa Morales

!!!!

Melissa Morales:

Ela não sai da minha cabeça

Paulo da minh tambem

Melissa Morales

Eu acho que a segunda temporada não foi desnecessá­ria pq ela não mostra só a Hannah, eles podem ter focado mais nela mas muitos detalhes mostram os outros a sua volta Melissa Morales

Eles meio que tiraram o foco da Hannah. Mostram que ela já foi uma praticante do bullying, mostra que o Marcus não é santo, mostra que aquela menina era lésbica e fingia que não

Helio Deliberado­r

Para mim é fantástico estar dialogando com vcs nessa maquininha de comunicaçã­o e rede social

Helio Deliberado­r

Como disse um tal Chesterson há mais de cem anos ”Estamos aprendendo a fazer muitas e fantástica­s coisas novas. A próxima grande tarefa pode ser aprender a decidir quando não fazê-las“Boa noite p vcs descansem e sonhem bons sonhos!

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