Folha de S.Paulo

ouro preto

- Thaís Nicoleti de Camargo

- história no brasil

“Ouro branco! Ouro preto! Outro podre! De cada/ Ribeirão trepidante e de cada recosto/ De montanha o metal rolou na cascalhada/ Para o fausto del-Rei, para a glória do imposto.” Os versos do escritor Manuel Bandeira evocam a cidade histórica mais visitada do Brasil, Patrimônio Cultural da Humanidade desde 1980.

Ouro Preto, que, em 1823, deixou de ser chamada de Vila Rica, sempre atraiu a visita de escritores e artistas (Oscar Niemeyer até projetou um hotel lá). Bandeira chegou a escrever o “Guia de Ouro Preto”, uma pequena joia, que, além de servir ao turista de primeira viagem, traz uma série de relatos e pormenores saborosos em tom de conversa –uma delícia de ler.

Está lá a história do nome da cidade, ligado à descoberta fortuita de “um mulato anônimo” que encontrou nas águas do então córrego Tripuí (depois batizado de Antônio Dias) “granitos negros”, que, como se soube mais tarde, eram pepitas do precioso metal recobertas de óxido de ferro.

É difícil estar na cidade sem se sentir transporta­do para a Era do Ouro, que, num misto de opulência e tragédia, deixou marcas que resistem na ornamentaç­ão das igrejas. “O Romanceiro da Inconfidên­cia”, de Cecília Meireles, em que a memória histórico-afeti- va do local surge reconstitu­ída com base em documentos, cartas e conversas familiares, pode ser ótima companhia nessa viagem.

Na crônica “Ouro Preto de Hoje, Ouro Preto de Sempre”, Vinicius de Moraes, outro apaixonado pela cidade, dá uma dica a quem quer registrar sua passagem por lá: “Bom parar a cada ladeira para adorar cada pequeno detalhe, uma grade, um ferrolho, um postigo, um corrimão, um lance de escada, um velho telhado, uma pátina louca num muro branco dessas que fariam o fotógrafo Cartier-Bresson viajar continente­s”. Para nós, tudo isso está logo ali. ⋆

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FOTOS ADRIANO VIZONI/FOLHAPRESS

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