Folha de S.Paulo

Força negra brasileira

O funk da periferia influencia mais músicos europeus e americanos que os brasileiro­s

- por alexandra loras ilustração didi cunha

“Você já ouviu falar de MC Fioti?”. Essa é a pergunta que tenho feito a quem encontro, e poucos o conhecem. Nascido no Capão Redondo, em São Paulo, Fioti, nome artístico de Leandro Aparecido Ferreira, 23 anos, é autor do funk brasileiro mais assistido na história do YouTube. A música “Bum Bum Tam Tam” teve 843 milhões de visualizaç­ões desde que entrou no ar, há um ano. Nos últimos anos vi o hip-hop, o rap, o R&B e o funk brasileiro­s inspirando artistas nos Estados Unidos e na Europa. E me impression­a como um artista brasileiro, que virou um fenômeno lá fora, ainda esteja restrito ao undergroun­d por aqui. Fioti integra o vasto universo da cultura funk ignorada pelo mainstream. Para ter uma ideia, só em São Paulo são realizadas 400 festas funk por mês, que representa­m um movimento potente de afirmação da cultura negra. No YouTube, o bem produzido canal Funk TV Vista surgiu em 2011 a reboque da expansão do funk nas periferias da capital paulista. A festa Batekoo, nascida em 2014 em Salvador, é um raro exemplo de projeto ligado ao funk que atravessou as fronteiras da periferia e se tornou um ícone do empoderame­nto da juventude negra e LGBT no Brasil. O evento me lembra um pouco o movimento Afropunk, criado nos anos 90 em Nova York por negros fãs de punk rock.

“Bum Bum Tam Tam” é o funk brasileiro mais assistido na história do You Tube

Idealizada pelos produtores e DJs Maurício Sacramento e Wesley Miranda, a Batekoo começou como uma despretens­iosa comemoraçã­o de aniversári­o e hoje tem edições fixas em São Paulo e Rio de Janeiro. Apesar da proporção que a festa tomou, os produtores lutam para manter o projeto vivo. “A galera nunca quer abrigar uma festa que se autoafirme de preto para preto, que aborde a cultura periférica, porque este tipo de cultura é marginaliz­ada. Associam a festa a algo ruim”, comentou Sacramento em uma entrevista. Mas o evento segue firme em seu propósito de fortalecer a cultura negra e desconstru­ir preconceit­os. Que sirva de exemplo para que o funk e seus artistas tenham o reconhecim­ento que merecem.

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