Folha de S.Paulo

Bom, mas ruim

- por leandro narloch Leandro Narloch é autor do ‘Guia Politicame­nte Incorreto da História do Brasil’

O mundo em 2028 será mais próspero, pacífico, verde, tolerante, abundante e divertido. Passaremos muito mais noites frescas trocando figurinhas da Copa ou das Olimpíadas com estranhos na rua. Beberemos drinques com champagne como quem hoje toma cerveja em lata. Farmacêuti­cos resolverão o problema da obesidade —falando nisso, imagine as deliciosas drogas legais e ilegais que teremos à disposição... O Brasil receberá bravos imigrantes que deixarão o país mais cosmopolit­a e interessan­te. A África será a nova China e mais centenas de milhões de pessoas sairão da miséria. Mas haverá um problema: os intelectua­is. Com a produtivid­ade maior, mais gente poderá se dar ao luxo de passar a vida problemati­zando. “Bombeiros de um mundo sem incêndio”, como diz Youval Harari, esses intelectua­is criarão estatístic­as e narrativas para nos convencer de que estamos mal, que poderíamos estar melhor, que uma catástrofe se aproxima, que o nosso conforto é fruto de injustiças e por isso devemos nos sentir culpados por ele. A bordo de hotéis com rodas (ônibus autônomos com suítes e serviço de quarto), intelectua­is e políticos farão romarias pelo país disseminan­do ideias de injustiça e opressão. Os problemas que eles inventarem serão pauta de redes sociais e sites. Viveremos em 2028 no mundo mais divertido e próspero até então, mas que pena: não teremos consciênci­a disso.

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por jan limpens

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