Truque heurístico
Como será o mundo daqui a dez anos? Esse tipo de pergunta existe apenas para humilhar os que ousam respondê-la. A crônica das previsões embaraçosamente erradas, muitas delas feitas por verdadeiros gênios, preencheria todas as páginas desta revista. Por quê? Antecipar o futuro é um negócio complicado. Se me pedissem para prever a hora em que ocorrerá a preamar matinal em San Diego, Califórnia, no dia 6/5/2028, não teria nenhuma dificuldade em afirmar que será às 8h18. Poderia até acrescentar que a maré atingirá 1,4m. Como eu sei disso? Fácil. Olhei no site da NOAA, a agência americana encarregada de calcular essas coisas. E como os técnicos da NOAA sabem disso? Bem, quando se trata de prever marés precisamos lidar basicamente com as forças gravitacionais exercidas pela Lua e pelo Sol e a rotação da Terra, que atuam de acordo com leis conhecidas (efeitos climáticos influem, mas muito discretamente). Só que poucos fenômenos são tão bem-comportados como as marés. Previsões sobre o estado do mundo, que envolvem atitudes de mais de sete bilhões de humanos interagindo entre si e com a natureza, de acordo com leis e regras que ainda nem conseguimos identificar, estão fadadas ao fracasso. Devemos, então, desistir? Não necessariamente. Podemos recorrer a um truque heurístico, que, se não produz previsões muito boas, serve para evitar a repetição de vexames. Qual é o melhor chute que você pode dar sobre como será o tempo amanhã, se não dispuser de nenhuma informação meteorológica? Diga que será igual ao de hoje. Não é que você vá acertar sempre. Errará várias vezes. Mas, como um ano típico tem mais dias sem virada de tempo do que com, você acertará mais do que errará. Minha resposta, então, é que o mundo daqui a dez anos será quase igual ao de hoje.