É hora de dar um basta nos pedidos pela volta do terror
BR Distribuidora e AGU entraram na Justiça para evitar cortes no abastecimento de combustíveis
Uma ação judicial movida pela BR Distribuidora indica que a participação de grupos que defendem uma intervenção militar, eufemismo para golpe, em bloqueio de caminhões foi uma atividade ensaiada há meses.
Em fevereiro, caminhõestanque foram impedidos de sair de pelo menos uma base de distribuição de combustível; outras três foram ameaçadas por “um grupo de pessoas que reivindica a volta da ditadura militar no Brasil”, segundo a petição protocolada naquele mês pela BR na Justiça de São João de Meriti (RJ).
As bases visadas foram as de Fortaleza (CE), onde houve “bloqueio completo”, segundo a BR, Cubatão (SP), Duque de Caxias (RJ) e Araucária, na região metropolitana de Curitiba (PR).
“O intuito dos manifestantes, mesmo alegando a ‘pacificidade’ do movimento, é unicamente impedir o carregamento de caminhões-tanque da Petrobras Distribuidora para fornecimento de produtos a postos revendedores, aeroportos e órgãos públicos com a finalidade de chamar a atenção para a causa”, diz a petição da BR.
Antecipando o cenário da paralisação dos caminhoneiros, a BR advertiu “o risco de grave dano” com o possível “desabastecimento no Estado do Rio de Janeiro, vez que o Terminal de Duque de Caxias é responsável pelo suprimento de combustível em praticamente todo o Estado”.
Pelo terminal de Duque, diz a BR, são abastecidos órgãos de segurança pública, como a Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros, as polícias Federal e Rodoviária Federal, Forças Armadas, Força Nacional, além de hospitais, concessionárias de transporte público e companhias aéreas, como Latam, Gol e Azul.
Na ação, a distribuidora informou ainda que “o Núcleo de Inteligência da Polícia Federal teria tomado conhecimento da existência de mensagens eletrônicas em que se verificava a intenção de certos indivíduos articularem manifestações com esse cunho político durante os festejos do Carnaval”. A ação judicial perdeu o objeto quando os protestos acabaram.
Em outra ação também de fevereiro, a AGU (Advocacia Geral da União) pediu que a Justiça garantisse a segurança da refinaria de Araucária, ameaçada por uma carta de cinco páginas encaminhada a diversas autoridades policiais por uma certa ACDB (Associação da Cidadania e Defesa do Brasil), que apoia uma intervenção militar. A Folha localizou uma das pessoas que reconheceu ter sido a responsável pelo que chama de projeto de bloqueio das refinarias, o microempresário Ivanir Ramos, 60, de São José (SC), que usa o pseudônimo “Dom Ramos” em redes sociais. Seu telefone celular consta da carta assinada pela ACDB.
A carta repudiava as eleições de 2018, defendia uma “intervenção institucional”, do povo com as Forças Armadas, e propunha “um governo de transição, temporário, militar e civil, que promoverá uma nova Constituição”.
Ramos disse que foram realizados três protestos na porta da refinaria de Araucária: o primeiro em fevereiro, com 16 pessoas, que durou cerca de 16 horas, o segundo em março, com 46 pessoas por 22 horas, e o terceiro em abril, com cem pessoas. A segunda manifestação, segundo Ramos, foi a que teve mais sucesso.
“Felizmente a gente atingiu ali o aeroporto de Curitiba e ele chegou a praticamente ficar sem combustível”, diz Ramos.
Depois dessa ação, segundo Ramos, a Justiça impôs uma multa diária de R$ 100 mil contra a ACDB caso interditasse a saída dos caminhões. Por isso,diz, o terceiro protesto não impediu o trânsito.
Levantando uma teoria conspiratória sobre a recente paralisação dos caminhoneiros —uma trama arquitetada por DEM, PSOL e PSL para “criar um holocausto dentro do país a fim de empurrar com a barriga as eleições de 2018—, Ramos afirmou que seu grupo conseguiu se infiltrar no movimento dos motoristas em 140 locais de protesto. “Não somos infiltrados que estão prejudicando as pessoas de ir trabalhar, não. Nós nos infiltramos no meio para reverter essa situação [da trama política]. Nós temos aproximadamente 687 pessoas infiltradas. Só do nosso movimento.” Ele diz que há “70 mil” apoiadores do movimento no país.
Procurada, a BR confirmou que no Carnaval grupos de pessoas não identificadas tentaram bloquear os acessos às bases de distribuição da Petrobras. A Infraero informou que as manifestações em questão não afetaram o abastecimento de combustível de aviação e as operações no aeroporto de Curitiba.
Entidade diz que se infiltrou entre caminhoneiros