Novo premiê da Itália chefiará governo eurocético
Giuseppe Conte, professor sem experiência política, é confirmado como premiê
Giuseppe Conte, professor de direito sem experiência política, aceitou a indicação do presidente da Itália, Sergio Mattarella, para se tornar o novo premiê do país após quase três meses de impasse desde as eleições, selando a formação de um governo populista e eurocético que representa uma derrota para a União Europeia.
Em pronunciamento na noite desta quinta-feira (31), após se reunir com Mattarella no Palácio do Quirinale, em Roma, Conte divulgou a composição de seu gabinete ministerial e afirmou: “Vamos trabalhar com determinação para melhorar a qualidade de vida de todos os italianos”.
Conte, 53, foi escolhido depois que os partidos Liga, à direita, e Movimento 5 Estrelas (M5E), à esquerda, chegaram a um acordo para a formação de um governo. Matteo Salvini, líder da Liga, será ministro do Interior, e Luigi di Maio, chefe do M5E, irá assumir a pasta do Trabalho. Ambos serão também os vice-premiês.
“Compromisso, coerência, ouvir, trabalhar, paciência, senso comum, coração e mente pelo bem dos italianos. Depois de tantos obstáculos, ataques, ameaças e mentiras, parece que conseguimos”, escreveu Salvini em uma rede social.
Ponto sensível nas negociações das últimas semanas, o Ministério das Finanças ficará a cargo de Giovanni Tria, professor de economia em uma universidade de Roma.
Apesar de crítico à UE e defensor da simplificação da burocracia, o que agrada à Liga, Tria não defende o abandono do euro e é visto como um nome mais moderado que o de Paolo Savona, economista antieuro que fora a primeira indicação de Conte e havia sido vetado por Mattarella.
Na Itália, uma república parlamentarista, os ministros precisam ser aprovados pelo presidente antes de o novo governo ser ratificado pelo Parlamento.
Savona considera o euro uma “prisão alemã”, e sua indicação havia causado preocupação nos mercados europeus, que assistiram a uma semana de perdas em suas principais Bolsas.
Com o veto de Mattarella, Conte desistira no domingo (27) de aceitar o cargo, o que levou o presidente italiano a tentar formar um governo técnico interino sob o comando do ex-economista do FMI (Fundo Monetário Internacional) Carlo Cottarelli. A ideia era que esse mandato-tampão durasse até novas eleições, nos próximos meses.
O movimento, porém, era arriscado e tinha pouca chance de sucesso no Parlamento. Pouco antes de receber Conte, Mattarella havia se reunido com Cottarelli no palácio presidencial.
Ao sair, o economista afirmou que havia renunciado ao cargo oferecido pelo mandatário. “Um governo de caráter político é a melhor solução para o país e evita a incerteza que novas eleições geram”, disse Cottarelli.
Ainda que fora da pasta das Finanças, Savona foi mantido no governo. O economista antieuro irá comandar o Ministério das Relações Europeias, pasta menos importante, mas que ainda permitirá que ele tenha voz em questões relacionadas à UE.
Investidores respirarão aliviados com o fato de um novo pleito ter sido evitado (ao menos por ora). Nas circunstâncias atuais, a votação tomaria ares de referendo sobre o euro. Mas as expectativas do mercado em relação ao plano de governo de Di Maio e Salvini, que prevê aumento de gastos públicos, não são exatamente positivas.
Com uma dívida pública que chega a 130% do seu PIB (Produto Interno Bruto), a Itália está atrás apenas da Grécia como país mais endividado da zona do euro.
O impasse político foi consequência do resultado da eleição de 4 de março, em que o 5 Estrelas foi a sigla individualmente mais votada. No cômputo geral, o partido ficou atrás da coalizão de centro-direita, que incluía a Liga e o Força Itália do ex-premiê Silvio Berlusconi.
Como nenhum grupo superou a marca de 40% necessária para governar sozinho, as siglas começaram a negociar arranjos. Di Maio disse que poderia negociar com a Liga, mas que não aceitaria a participação de Berlusconi, na prática exigindo a dissolução da aliança de centro-direita.
Salvini descartou inicialmente essa possibilidade, mas acabou cedendo e aceitou uma aliança com o 5 Estrelas.
Para fechar o acordo, tanto Salvini quanto Di Maio tiveram que abrir mão de comandar o país. O nome de consenso acabou sendo Conte.
O jurista tem ligação com o 5 Estrelas. Além de sua inexperiência política, ele foi alvo de críticas por inconsistências em seu currículo.
AFP, Associated Press e Reuters