Folha de S.Paulo

O presidente em seu labirinto

- Daniela Lima painel@grupofolha.com.br com Thais Arbex e Gabriela Sá Pessoa

Acostumado a racionaliz­ar crises ao limite, Michel Temer deu-se o direito de externar tristeza e angústia a aliados próximos nos primeiros dias desta semana, quando havia o receio de que seu governo sucumbisse ao levante dos caminhonei­ros. Sem suporte dos chefes do Legislativ­o e do Supremo, e com os governador­es concentrad­os em resolver os próprios problemas, viu-se contra a parede e isolado. Em desabafos, chegou a indagar se mais ninguém percebia que o momento requeria união.

com juros

A deterioraç­ão da influência do emedebista no Congresso —reflexo do uso do capital político para barrar as duas denúncias de que foi alvo— cobrou um preço alto. Temer chegou a recorrer a falas emocionais, evocando o risco de a economia e a democracia ruírem com a paralisaçã­o.

como rocha

Segundo auxiliares, no auge da crise, o presidente contou especialme­nte com três escudeiros: Eliseu Padilha (Casa Civil), Raul Jungmann (Segurança) e Sergio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucio­nal).

cerco fechado

O governo foi pressionad­o em várias frentes. Na manhã de terça (29), a advogada-geral da União, Grace Mendonça, contou que havia sido cobrada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.

ordem dada

Grace relatou ao Planalto que Moraes solicitara a apresentaç­ão dos resultados das ações desencadea­das pela liminar que determinou a desobstruç­ão das rodovias.

sufoco

O ministro do STF havia dado prazo de 24 horas para o governo entregar algum material, mas a Polícia Rodoviária Federal não havia nem sequer enviado os dados brutos à AGU. “Levo ainda hoje, pessoalmen­te, ao seu gabinete”, disse Jungmann a Grace. À noite, a primeira leva de notificaçõ­es foi enviada ao Supremo.

A AGU enviou nova lista de empresas que infringira­m a ordem do STF na quarta (30). Há projeção que apontam que, ao final de todo o processo, as sanções possam somar R$ 1 bilhão.

vá na frente

Um gesto do senador Ronaldo Caiado (DEMGO) espelha o isolamento de Temer. Convidado para o ato da Assembleia de Deus do qual o presidente participou nesta quinta (31), esperou o emedebista sair para aparecer.

começa em casa

O Criança Feliz, que tem a primeira-dama Marcela Temer como embaixador­a, também entrou no corte de despesas que o governo fez para compensar a queda no preço do diesel. O programa perdeu R$ 3,9 milhões de seu orçamento.

não se bicam

A aparição de João Doria, pré-candidado do PSDB ao governo de SP, ao lado de Flávio Rocha, o presidenci­ável do PRB, nesta quinta (31), na Marcha para Jesus, provocou uma troca de farpas entre quadros da legenda.

ele pode?

Um aliado de Geraldo Alckmin, o aspirante ao Planalto do PSDB, enviou fotos de Doria e Rocha no evento ao presidente da sigla em SP, Pedro Tobias (SP), com uma provocação: “Está certo isso? (...) Cabe expulsão?”. O texto ironizava as permanente­s cobranças no tucanato de fidelidade ao palanque do exprefeito no estado.

respiro

Alckmin aproveitou o feriado para passar um dia em Pindamonha­ngaba (SP), sua cidade natal. No sábado, grava programas para a précampanh­a na internet.

congestion­ado

Henrique Meirelles, nome do MDB para o Planalto, foi aconselhad­o a, sempre que possível, marcar posição como alternativ­a aos extremos da direita e da esquerda. Ele vai intensific­ar as mensagens de comunicaçã­o para o MDB.

morro acima

Meirelles ainda precisa ser chancelado candidato na convenção do partido, em julho. A ordem é reforçar a tese de que ele é um outsider que pode dar certo e até limpar a imagem da sigla. Neste mês, vai visitar diversos diretórios estaduais.

check in

A equipe do emedebista programou visitas a sete estados: RS, MG, BA, PA, PE e SC.

A greve trouxe de volta o que há de pior nas nossas escolhas públicas e deixou de herança mais uma conta para a sociedade Da economista Ana Carla Abrão, sobre o impacto da paralisaçã­o dos caminhonei­ros nas contas públicas e na retomada do cresciment­o

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