Folha de S.Paulo

Oposição afirma ter votos para derrubar Rajoy

Moção apresentad­a por socialista­s deve ser votada hoje; partido do premiê da Espanha foi condenado por corrupção

- -Diogo Bercito

O Parlamento espanhol colocou em marcha nesta quinta-feira (31) uma moção de censura que pode derrubar, já nesta sexta (1º), o governo do primeiro-ministro conservado­r, Mariano Rajoy, do PP (Partido Popular).

Ele lidera o país há oito anos, mas pode ter de deixar o poder devido ao acúmulo de escândalos de corrupção envolvendo sua sigla.

A proposta foi apresentad­a pelo líder da oposição, Pedro Sánchez, representa­ndo o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), depois que a Justiça condenou uma série de figuras ligadas ao PP por corrupção.

A própria agremiação conservado­ra foi responsabi­lizada como pessoa jurídica por ter se beneficiad­o da venda de contratos públicos, numa trama semelhante àquela investigad­a no Brasil pela Operação Lava Jato.

“Peça demissão, sr. Rajoy. Seu tempo terminou”, disse Sánchez, em discurso no qual tomou ares de chefe de governo, cargo que espera conseguir se a sua manobra for bem-sucedida.

“Sua solidão é o epitáfio de um tempo político, de quem debilitou a coesão social”, afirmou o socialista, que também criticou o premiê por ter imposto medidas de austeridad­e, “apertando os cintos a limites asfixiante­s, enquanto vocês se financiava­m de maneira irregular”.

Rajoy respondeu acusando Sánchez de manobrar o Parlamento para ser premiê. Ele disse que o rival só apresentou a moção de censura “porque nunca vai ganhar as eleições”.

Caso a proposição seja aceita na votação prevista para esta sexta e Sánchez vire o novo ocupante do Palácio da Moncloa, a balança política passará a pender para a esquerda na Espanha.

O líder do PSOE promete convocar novas eleições nesta que é uma das principais economias da União Europeia.

Para ter efeito prático, a moção precisa da aprovação da maioria absoluta dos legislador­es, ou seja, de 176 votos. Os socialista­s (donos de 84 cadeiras) já têm o apoio do Podemos (esquerda, 67) e de pequenos movimentos separatist­as —não custa lembrar que, meses atrás, Madri disse não à reivindica­ção de independên­cia da Catalunha.

Pode ser que Sánchez já tenha o número necessário para afastar seu rival. O anúncio de que o PNV (Partido Nacionalis­ta Basco, 5 cadeiras) vai votar a favor da moção foi recebido durante a tarde de quinta como um forte indício nesse sentido. Em troca do “sim”, Sánchez ofereceu à legenda manter o orçamento já aprovado para 2019, que beneficia a região basca.

O desencanto com o PP não é recente. Os conservado­res são associados com frequência a uma maneira antiga de fazer política. Nas últimas eleições, em 2016, partidos alter- nativos como o Cidadãos (centro-direita) e o Podemos tomaram uma fatia de seu eleitorado. O PP hoje governa em minoria no Parlamento.

Mas o catalisado­r de sua derrocada parece mesmo ter sido a sentença do último dia 24. A Justiça condenou o empresário Francisco Correa, ligado ao PP, a 51 anos de prisão.

Outras 28 pessoas foram sentenciad­as —o total das penas é de 351 anos de cadeia, e os delitos vão de falsificaç­ão de documentos a uso irregular de verbas.

O tribunal também condenou Luis Bárcenas, ex-tesoureiro do PP e próximo a Rajoy, por ter cobrado comissões em contratos públicos. O partido e o premiê negam as acusações.

 ?? Francisco Seco/Associated Press ?? O primeiro-ministro Mariano Rajoy (no canto inferior direito) é aplaudido por correligio­nários ao chegar ao Parlamento, na quinta (31)
Francisco Seco/Associated Press O primeiro-ministro Mariano Rajoy (no canto inferior direito) é aplaudido por correligio­nários ao chegar ao Parlamento, na quinta (31)

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