Folha de S.Paulo

Agências de resgate tentam evitar ‘bis’ de caos deixado por furacões nos EUA

- Silas Martí

Quando as rajadas de vento e pancadas de chuva da tempestade Alberto atingiram antes da hora uma série de estados americanos, os meteorolog­istas e agentes de resgate não ficaram nem um pouco surpresos.

Mesmo abrindo antecipada­mente a temporada dos furacões no norte do Atlântico (que só começa em junho), o fenômeno já despontava no radar dos responsáve­is por prever esses desastres, que podem fazer nos próximos meses um estrago igual ou pior do que no ano passado, marcado pela fúria do trio de ciclones Harvey, Irma e Maria.

“Fomos empurrados até o limite e estamos tentando entender como deve ser nossa operação numa era que superou o pior que podíamos imaginar”, conta Mike Byrne, chefe de operações de resgate em Porto Rico, localidade que mais sofreu com a destruição sem precedente­s do Maria.

Tanto que todos os esforços de reconstruç­ão, também inéditos na história americana, continuam enquanto a nova onda de tempestade­s vai se formando no horizonte.

No ano passado, houve dez furacões na região, sendo seis de grandes proporções. Neste ano, institutos preveem até 18 furacões —cinco com enorme poder de destruição.

Embora o governo calcule que 64 pessoas perderam a vida em Porto Rico, um estudo da Universida­de Harvard estima que ao menos 4.600 tenham morrido no rastro do caos provocado pelo Maria.

Isso porque toda a rede elétrica ali foi afetada, deixando centenas de milhares sem luz. Nem os hospitais da ilha escaparam do blecaute.

Os atrasos e os atropelos na operação de resgate na ilha, em nada parecidos com a eficiência dos agentes federais no rescaldo do Harvey, que atingiu Houston, respingara­m ainda na imagem desgastada do presidente Donald Trump.

Diante de mais uma temporada de tempestade­s com potencial devastador, seu governo agora vem alardeando números superlativ­os, tentando aplacar as acusações de discrimina­ção contra os nascidos na ilha, que também são cidadãos americanos.

Seus agentes afirmam já ter gastado o equivalent­e a quase R$ 11 bilhões ali e prometem investir mais R$ 190 bilhões nos próximos dez anos, quase R$ 40 bilhões só para restaurar a rede elétrica.

“É difícil descrever em palavras a dificuldad­e de fazer esses reparos”, diz Byrne. “As linhas de transmissã­o estão sendo instaladas com helicópter­o por homens e mulheres que arriscam a vida se pendurando no ar para fazer isso.”

E todos eles correm contra o relógio. Enquanto 14 mil ainda vivem sem luz na ilha e só 800 geradores fornecem energia a pontos críticos do território, todas as atenções se voltam para evitar um estrago ainda mais grave pelas tempestade­s que se aproximam.

“Não vamos deixar de gastar um dólar que pudermos gastar para fazer esses reparos”, diz Byrne. “Não podemos ser estúpidos. Vamos reconstrui­r com bem mais agilidade, pensando só no que fizer sentido.”

Nesta semana, homens das agências federais de resgate vão fazer uma série de ensaios planejando como agir em caso de um novo furacão igual ou mais forte do que o Maria.

Isso envolve orientar a população a estocar dez dias de comida para consumir em situação de emergência e preparar os hospitais para atender grandes fluxos de pacientes.

“Os porto-riquenhos deixam tudo para o último minuto”, diz Tito Hernández, outro chefe de operações de resgate. “Estamos tentando mudar essa cultura para que todos estejam mais preparados.”

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