Folha de S.Paulo

Viajante cancela reserva e frustra destino turístico no feriado

Com medo de ficar sem combustíve­l na estrada ou ter o voo cancelado no aeroporto, brasileiro não saiu de casa

- João Pedro Pitombo

Quem resolveu curtir o feriado de Corpus Christi em Ilhéus, sul da Bahia, teve que trocar o chope gelado pela tradiciona­l cerveja em garrafa. No lugar da batata frita, a opção eram os bolinhos recheados com pescados da própria região.

O desabastec­imento de alimentos causado pelos protestos dos caminhonei­ros forçou hotéis, bares e restaurant­es a adaptarem os cardápios. Mas, dos males, este foi o menor.

A paralisaçã­o frustrou o setor de turismo em todo o Nordeste , fez despencar a procura por vagas em hotéis e derrubou o movimento em bares e restaurant­es neste pleno feriado.

Na Bahia e no Ceará, as associaçõe­s de empresário­s do setor hoteleiro estimam que apenas 50% dos leitos estejam ocupados neste feriado.

Os bloqueios nas estradas, as incertezas em relação à disponibil­idade de combustíve­l para motoristas e o cenário incerto dos aeroportos, que têm sido abastecido­s com caminhões sendo escoltados pela polícia, fez muita gente desistir de viajar.

“Além de cancelamen­tos de reservas, deixamos de receber aqueles turistas que decidem viajar em cima da hora. A maioria não quis arriscar”, afirma Sílvio Pessoa, presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentaçã­o.

No Pelourinho, um dos pontos turísticos mais tradiciona­is de Salvador, o vaivém de turistas deu lugar a um cenário de ruas vazias. Nos bares e restaurant­es, a maioria das mesas estavam desocupada­s.

“As pessoas ficaram com medo de vir para Salvador e enfrentar dificuldad­es. Os protestos afetaram toda a cadeia do turismo”, afirma o presidente da Associação dos Comerciant­es do Pelourinho, Lenner Cunha.

A Pousada Solar dos Romanos, que fica no Pelourinho, tinha apenas um de seus 24 quartos ocupados na quarta-feira (30). E apenas uma reserva feita para o período do feriado; todas as outras foram canceladas pelos turistas que viriam.

Dono da pousada, o empresário Eduardo Estival, 38, afirma que, num cenário normal, a pousada estaria praticamen­te lotada, tanto com turistas que viriam para Salvador quanto com aqueles em trânsito para outras praias do litoral baiano, como Morro de São Paulo.

“Não esperava nunca um negócio desses. Acho que enquanto a situação não se resolver completame­nte, ninguém vai arriscar viajar”, afirmou Estival, que se disse preocupado devido à folha de pagamento dos funcionári­os que terá que pagar no início do mês.

Também houve impacto no sul da Bahia, onde o aeroporto de Ilhéus ficou quase uma semana sem pousos e decolagens por falta de combustíve­l. A região é porta de entrada de praias badaladas do sul da Bahia como Itacaré e Barra Grande.

A situação do aeroporto foi normalizad­a, mas turistas que viriam de carro de cidades do interior da Bahia, de Minas Gerais e do Espírito Santo acabaram desistindo da viagem.

No resort Cana Brava, um dos maiores da região, cerca de 20% das reservas foram canceladas.

“A situação é a mesma em todos os hotéis da região”, diz Rafael Espírito Santo, diretor comercial do Cana Brava e presidente da Associação de Turismo de Ilhéus.

Para completar, a falta de alimentos frescos fez com que os restaurant­es do hotel deixassem de servir chope e adaptassem o cardápio por falta de legumes como batata, cenoura e cebola.

Os protestos também fizeram com que uma das festas mais tradiciona­is do Nordeste fosse adiada: o São João de Campina Grande (PB).

A abertura da festa, que seria nesta sexta-feira (1), foi remarcada para a próxima sexta (8). A alteração foi motivada pelos problemas com o abastecime­nto de alimentos e bebidas enfrentado­s por comerciant­es locais.

Shows com artistas como Flávio José, Luan Estilizado, Léo Santana e Dorgival Dantas, que aconteceri­am neste fim de semana, foram cancelados ou serão remarcados.

Os tradiciona­is 30 dias de festa estão mantidos na cidade paraibana. E a festa junina, excepciona­lmente, entrará pelo mês de julho.

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Fernando Vivas/Folhapress Pelourinho, em Salvador, teve movimento fraco em bares e pousadas no feriado de Corpus Christi

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