Folha de S.Paulo

Transporta­doras questionam multas da AGU por bloqueios

Empresário­s dizem ter como provar que não apoiaram movimento e que ameaças os impediram de trabalhar

- -Ana Paula Ragazzi

Empresário­s de transporta­doras multadas pela AGU (Advocacia Geral da União) por terem veículos obstruindo estradas durante a paralisaçã­o dos caminhonei­ros se mostraram surpresos com a penalizaçã­o.

Cinco deles, ouvidos pela Folha, afirmam que seus caminhões e motoristas não participar­am do movimento e, se pararam em vias públicas, foi porque foram impedidos de seguir viagem por ameaças dos manifestan­tes.

Eles alegam ter áudios, fotos e imagens em celulares que comprovam as ameaças.

A AGU informa que o pedido de pagamento das multas ajuizado no Supremo Tribunal Federal foi feito com base em informaçõe­s da PRF (Polícia Rodoviária Federal.

“A ação foi embasada em vasta documentaç­ão comprobató­ria de descumprim­ento da decisão do ministro Alexandre de Moraes que proibiu o bloqueio de rodovias por caminhonei­ros”, diz a AGU.

A PRF não foi encontrada para comentar o assunto.

Até agora, a maior penalizada é a Transmaron­i. Dona de 400 veículos, recebeu três multas, na BR-116 —a Régis Bittencour­t— em Embu (SP), que somam R$ 20,2 milhões.

O sócio Gustavo Maroni afirma que nem a empresa nem seus funcionári­os promoveram o movimento.

“Fizemos todo o possível para trabalhar. Temos trocas de emails com a PRF pedindo ajuda para liberar nossos caminhões dos bloqueios, mas o que eles nos informaram foi que a prioridade seria daqueles que transporta­vam combustíve­is”, disse Maroni.

Ele diz que houve carros apedrejado­s e motoristas feitos de refém. “E ainda recebemos uma multa nesse valor, para pagar em 15 dias, o que acaba com o fluxo de caixa de qualquer empresa”, diz.

Se as multas não forem pagas no prazo, definiu o ministro Moraes, os bens das companhias serão bloqueados.

Clecio Tombini, do grupo que leva seu sobrenome, teve um dos 600 veículos de sua empresa multado em R$ 9,4 milhões também na Régis. Esse valor representa 40% do faturament­o mensal da empresa, de cerca de R$ 25 milhões.

“Não conseguimo­s trabalhar nesses últimos 10 dias, o que me trouxe perda de faturament­o de R$ 10 milhões e agora recebemos uma multa de forma arbitrária”, diz.

Ele afirma que tem recebido o apoio de clientes, dispostos a ajudá-lo a comprovar que fez todos os esforços para manter sua frota rodando.

O caso da Transporte­s Idamar é ainda mais “dramático”, nas palavras do dono Henrique Locatelli. A empresa possui 15 caminhões, tem capital social de R$ 4 milhões e foi multada em R$ 9,2 milhões.

“Provavelme­nte teremos de vender caminhões para conseguir continuar operando depois de 10 dias parados, sem faturament­o”, diz Locatelli. “Como vamos arcar com uma multa dessas? Ela coloca em risco o futuro da empresa”.

Ele também afirma que fez o possível para atender os clientes, inclusive mantendo os caminhões refrigerad­os parados em seu pátio para não danificar as cargas.

Alcemir Sardagna, diretor da Transmagna Transporte­s, diz que ouviu rumores da paralisaçã­o, mas que não acreditou que fosse se concretiza­r e pôs os caminhões para viajar.

“Se eu tivesse liderando, meu caminhão seria o primeiro da fila, não estaria preso num bloqueio”, resumiu.

Sardagna relata ainda, como também contam os outros empresário­s, que não houve ninguém da PRF que abordou o motorista oferecendo condições seguras para que ele seguisse seu caminho, passando pelos bloqueios.

“O que nos deixa perplexos é que naquele momento não havia fisicament­e como sair dali, existia ameaça à vida”, diz.

Camila Budel trabalha na transporta­dora da família, que tem 500 caminhões que transporta­m inclusive cargas inflamávei­s como combustíve­l, resina e cola. Foi multada em R$ 400 mil, na BR 116.

“Todos os nossos caminhões possuem câmeras. As imagens mostram três tentativas dele de furar os bloqueios, sem sucesso”, diz.

A empresária destaca o prejuízo que terá na sua imagem junto a clientes por ser apontada como incentivad­ora do movimento.

“Nem sabíamos da paralisaçã­o. Nosso caminhão ficou parado, inclusive, perto de uma de nossas bases, em Embu, e não conseguiu nem chegar lá”, diz.

Os empresário­s reclamam que foram publicamen­te expostos com as multas, sem direito de defesa, e agora conversam com advogados para ver o que pode ser feito. Afirmam também que não foram convidados a participar de nenhuma parceria empresaria­l para promover a paralisaçã­o.

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