Folha de S.Paulo

Rodoanel tem 31% dos assaltos em estradas paulistas

Estão no anel viário 31% de todos os 111 roubos registrado­s em rodovias paulistas desde 2017

- -Rogério Pagnan

O Rodoanel no entorno da cidade de São Paulo teve 34 dos 111 assaltos registrado­s pela polícia em estradas paulistas de janeiro de 2017 a março deste ano.

Os trechos com maior ocorrência do crime passam pelos municípios de Carapicuíb­a e Osasco (oeste) e São Bernardo e Santo André (sul).

Bilionário e ainda incompleto anel viário no entorno da cidade de São Paulo, o Rodoanel Mário Covas se tornou o trecho de maior incidência de ataques a motoristas nas rodovias paulistas.

São ações em que os criminosos atiram pedras contra o para-brisa dos veículos ou colocam grandes blocos na pista para obrigar o condutor a parar no acostament­o e, assim, aproveitam a oportunida­de para assaltá-lo.

São dezenas de casos que fazem do Rodoanel uma espécie de Faixa de Gaza desse tipo de crime, em especial nos trechos que passam pelos municípios de Carapicuíb­a e Osasco (oeste) e São Bernardo e Santo André (sul). Ambos têm favelas em seus entornos.

Dados da PM obtidos pela Folha revelam que, de janeiro de 2017 a março deste ano, foram registrado­s 34 ataques na via —o equivalent­e a 31% de todos os 111 roubos conhecidos pela polícia de São Paulo em 12 rodovias estaduais.

Para se ter uma ideia da dimensão desses números, a quantidade de roubos nos 123 km do Rodoanel é o dobro da verificada nos 173 km da rodovia Bandeirant­es (17 casos).

A grave situação do Rodoanel levou o governo paulista a alterar, em outubro passado, o sistema de policiamen­to na rodovia. Na ocasião, criou uma companhia da Polícia Militar, com cerca de 240 homens, destinada exclusivam­ente a essa estrada.

Antes, o policiamen­to da pista era dividido entre três unidades, conforme a região do trecho. Até agora, porém, a mudança teve pouco efeito.

Os dados obtidos pela Folha mostram que, até 18 de abril, o policiamen­to rodoviário havia registrado 28 ocorrência­s de ataques a pedradas em oito rodovias paulistas e, desse total, 15 delas tinham como endereço o Rodoanel. Só neste ano, mais da metade dos crimes (53%) ocorreram nessa via da Grande São Paulo.

Segundo policiais e especialis­tas ouvidos pela Folha , um dos gargalos do Rodoanel é o desvirtuam­ento da ideia original de ser uma via expressa sem ligação com a área urbana. Ocorre que, ao longo da rodovia, em especial nos trechos oeste e sul, há uma sé-

Cláudio César Capelari porta-voz da Polícia Militar Rodoviária de São Paulo

rie de novas comunidade­s com fácil acesso à via. Muitas delas são moradias precárias erguidas em áreas invadidas.

Na divisa de Carapicuíb­a e Osasco, por exemplo, o Rodoanel permite acesso direto a bairros desses municípios, o que também foge da ideia original da rodovia, de ter ligação apenas com outras estradas.

“Ele [Rodoanel] passa em trechos onde tem as comunidade­s lindeiras. Claro, há cidadãos de bem, mas o crime também está ali e se aproveita de trechos do Rodoanel que são mais escuros”, disse o capitão Cláudio César Capelari, porta-voz da Polícia Militar Rodoviária de São Paulo.

Uma das consequênc­ias desse desvirtuam­ento é a implantaçã­o de passarelas. São desses locais que criminosos costumam atirar pedras, embora todas tenham telas de metal.

Foi de uma delas, na altura do km 23 do trecho oeste, que criminosos atiraram uma pedra contra o veículo dirigido pelo hoteleiro Leandro Ciasca Balazshazi, 35, em janeiro.

A pedra atingiu seu rosto, matando-o na hora. O veículo, um Fiat Pálio, capotou várias vezes e foi encontrado por policiais militares minutos depois —os agentes foram acionados por pessoas que passavam pela região. No local, cinco meses depois, só há marcas de frenagem.

Procurada, a Polícia Civil de São Paulo não quis falar com a Folha sobre assunto. Em resposta de quatro linhas, disse que identifico­u três suspeitos pela morte de Leandro, um maior e dois menores. Disse ter pedido a prisão temporária do autor e a apreensão dos adolescent­es, mas que todas foram negadas pela Justiça.

Para o consultor em engenharia Luiz Célio Bottura, expresiden­te da Dersa (empresa do governo do estado responsáve­l por obras viárias), o ideal seria impedir a instalação de habitações ao longo da via, bem como fazer a retirada daquelas existentes. Agora, porém, não há saída, a não ser trabalhar na fiscalizaç­ão.

“Falta a presença de fiscalizaç­ão, da [polícia] Rodoviária e da concession­ária. Se tiver carro da concession­ária perto, ajuda, para ter movimentaç­ão”, afirma Bottura.

Ele [Rodoanel] passa em trechos onde tem as comunidade­s lindeiras. Claro, há cidadãos de bem, mas o crime também está ali e se aproveita de trechos do Rodoanel que são mais escuros

 ?? Adriano Vizoni/Folhapress ?? Trecho do Rodoanel com acesso direto a bairros de Osasco (direira) e de Carapicuíb­a (esquerda), o que contraria o projeto original de via expressa do anel viário paulista
Adriano Vizoni/Folhapress Trecho do Rodoanel com acesso direto a bairros de Osasco (direira) e de Carapicuíb­a (esquerda), o que contraria o projeto original de via expressa do anel viário paulista
 ?? Nelson Antoine/Folhapress ?? Polícia criou um batalhão exclusivo para monitorar os 123 km do Rodoanel na região metropolit­ana de SP
Nelson Antoine/Folhapress Polícia criou um batalhão exclusivo para monitorar os 123 km do Rodoanel na região metropolit­ana de SP
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil