Folha de S.Paulo

Portugal aposta em brasileiro­s para impulsiona­r universida­des

Pedidos de vistos crescem 35% em um ano e brasileiro­s somam 12,2 mil matriculad­os; estrangeir­os ocupam vagas ociosas

- -Giuliana Miranda

As universida­des de Portugal —país com uma das taxas de natalidade mais baixas da Europa e uma população cada vez mais envelhecid­a— estão apostando nos estudantes estrangeir­os, sobretudo brasileiro­s, como forma de preencher as vagas ociosas.

Nos últimos dez anos, a quantidade de alunos internacio­nais em instituiçõ­es portuguesa­s praticamen­te dobrou. Houve uma alta de 95%, segundo estatístic­as do setor.

Os estudantes brasileiro­s lideram o ranking. São mais de 12,2 mil alunos: quase a mesma quantidade que têm, somados, os outros quatro países do top 5 — Angola, Espanha, Cabo Verde e Itália.

Os estrangeir­os são também uma cobiçada fonte de receita. Desde 2014, as universida­des, inclusive as públicas, podem cobrar valores mais caros do que pagam os portuguese­s.

As instituiçõ­es têm liberdade: algumas cobram o mesmo valor, enquanto outras praticam preços até sete vezes mais altos pelo mesmo curso.

Mas essa diferença não tem retraído os brasileiro­s.

O consulado de Portugal em São Paulo registrou um aumento de mais de 35% na solicitaçã­o de vistos de estudante em 2017, e 2018 deve ter ainda mais pedidos. Com tanta demanda, a demora pela documentaç­ão aumentou. No ano passado, houve quem perdesse o início do ano letivo devido ao atraso no visto.

As instituiçõ­es de ensino, por sua vez, tentam facilitar cada vez mais a entrada dos brasileiro­s. Atualmente, 31 delas já aceitam o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

A vontade de atrair brasileiro­s também cria novos produtos de olho nesse público.

A Universida­de Nova de Lisboa, por exemplo, lançou um pré-semestre acadêmico destinado ao mercado internacio­nal, com muita ênfase nos estudantes brasileiro­s.

Espécie de “test drive” dos cursos e do ambiente universitá­rio, o pré-semestre garante um período de orientação e aulas de adaptação antes de começar a graduação para valer.

A ideia é que os alunos tenham contato com o ambiente acadêmico da Europa e se familiariz­em com os diferentes cursos e a realidade de Portugal antes de baterem o martelo sobre que curso fazer.

“É um processo muito menos traumatiza­nte para o aluno. Isso é muito mais fácil do que ele estar no Brasil e se candidatar para uma coisa que ele não conhece, vir para cá e ter de ficar quatro anos aqui”, diz o vice-reitor João Amaro de Matos.

Prestes a acabar seu pré-semestre, a carioca Carolina Nunes, 20, gostou de conhecer os cursos antes de se decidir.

“Eu gostei muito da experiênci­a, porque a gente tem a oportunida­de de conhecer e se adaptar um pouco mais antes de começar o curso para valer. Ainda mais por ser um país diferente e por ter uma forma de educação totalmente diferente da que nós temos no Brasil”, diz.

Natural de Vinhedo (SP), Gustavo Schliemann, 20, diz que um dos pontos positivos foi também estar mais próximo dos polos de tecnologia da área que quer seguir.

“Quero fazer engenharia biomédica e isso é muito mais forte aqui na Europa do que no Brasil. Além disso, as empresas que contratam mesmo ficam principalm­ente aqui.”

Pioneira na incorporaç­ão do Enem, em 2014, a Universida­de de Coimbra é a mais brasileira entre as universida­des estrangeir­as. São mais de 2.000 alunos, entre graduação e pós-graduação.

Segundo a instituiçã­o, a demanda dos brasileiro­s pela universida­de tem sido tão grande que quase 500 interessad­os não foram admitidos.

A Universida­de do Algarve também tem uma comunidade brasileira expressiva: são mais de 600 estudando lá.

O número de brasileiro­s cresceu 59% de 2017 para 2018, sendo ainda mais acentuado nos mestrados: uma alta de cerca de 103%, em 35 cursos diferentes.

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