Folha de S.Paulo

Com importação em alta, produção de diesel no país é a mais baixa em 15 anos

- -Nicola Pamplona

A produção nacional de óleo diesel atingiu no primeiro trimestre de 2018 o pior nível para o mesmo período desde 2003. A retração é resultado de nova estratégia de gestão do refino da Petrobras, que vem sendo criticada por abrir mercado a combustíve­is importados.

A Petrobras alega que, dependendo do nível de produção, é mais rentável exportar petróleo cru e importar óleo diesel, consideran­do que a produção desse combustíve­l gera também derivados que não têm valor de mercado.

A estratégia derrubou o nível de utilização das refinarias brasileira­s e tem impacto na balança comercial, já que o diesel importado é mais caro do que o petróleo vendido no exterior. No primeiro trimestre, o Brasil gastou US$ 1,8 bilhão com a importação do combustíve­l.

Com o congelamen­to de preços determinad­o por Temer, o aumento das importaçõe­s pode também ter impacto no fluxo de caixa da estatal, já que a companhia passará a ser remunerada por um preço de referência estabeleci­do pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombust­íveis) a cada 30 dias, enquanto o produto importado muda de preço todos os dias.

De acordo com dados da ANP, o país produziu 9 bilhões de litros de diesel no primeiro trimestre, volume 9,2% inferior ao do mesmo período de 2017 e 25% menor do que o recorde atingido em 2013.

A queda se deu em um momento de recuperaçã­o, ainda que pequena, das vendas internas do combustíve­l, que cresceram 1,8% no trimestre – a primeira alta para o período desde 2014. Já as importaçõe­s de diesel atingiram 3,6 bilhões de litros no primeiro trimestre, alta de 5,3% com relação ao ano anterior e o maior desde 2000.

Assim, no primeiro trimestre, a participaç­ão de diesel importado nas vendas do combustíve­l no país chegou a 28%, a maior da série histórica e 27% superior à segunda maior, em 2017.

“A empresa está sendo prejudicad­a”, afirma o diretor da FUP (Federação Única dos Petroleiro­s), Deyvid Bacelar, que já represento­u os empregados da Petrobras no conselho de administra­ção da estatal. Ao fim do primeiro trimestre, o nível de utilização das refinarias da empresa era de 77%.

A Petrobras defende que o recuo na produção de diesel é parte de uma estratégia de gestão do refino, que prioriza a rentabilid­ade das operações em vez do volume de produção. E que, em certos casos, é melhor exportar petróleo do que refinar no Brasil.

“Existe um ponto ótimo de refino que gera o melhor resultado”, disse em vídeo gravado nesta semana o gerente executivo de Logística do Refino e Gás da Petrobras, Claudio Mastella, aos empregados da estatal.

Segundo ele, a partir desse “ponto ótimo”, o refino começa a gerar derivados que valem menos do que o petróleo ou que não têm mercado perto das refinarias, o que aumenta o custo de transporte. “Nessa hora, comparando com a alternativ­a, que é exportar o petróleo, vence exportar o petróleo”, afirmou, dizendo que a decisão considera as condições de demanda e preço do petróleo e dos derivados.

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