Folha de S.Paulo

Governo usa agência para intervir nos combustíve­is

ANP, que regula o setor, quer estabelece­r prazo mínimo para reajuste nos preços

- -Nicola Pamplona

A Agência Nacional do Petróleo anunciou consulta pública para discutir a periodicid­ade dos reajustes de combustíve­is no país. O objetivo da agência reguladora é estabelece­r prazo mínimo para repasses das variações de preços. A ação pode atingir refinarias e distribuid­oras.

A medida foi negociada com o governo Temer (MDB) e é parte da estratégia para pôr fim aos reajustes diários da Petrobras sem passar a imagem de intervençã­o no mercado de combustíve­is.

Principal afetada, a estatal divulgou nota dizendo que vai colaborar com a ANP.

A política de preços da Petrobras passou a ser contestada após aumento nos preços de gasolina, diesel e gás provocado pela escalada das cotações internacio­nais do petróleo nos últimos meses.

As distribuid­oras disseram que precisam avaliar a medida antes de se pronunciar.

Antes, criticaram o uso da polícia para controlar o preço do diesel nos postos. “A Venezuela começou assim”, disse Leonardo Gadotti, representa­nte do setor.

A ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombust­íveis) anunciou nesta terça-feira (5) que vai abrir consulta pública para discutir a periodicid­ade dos reajustes de combustíve­is no país.

A ideia é estabelece­r um prazo mínimo para repasses das variações no mercado internacio­nal. Ainda não está definido qual será o prazo, mas a determinaç­ão pode atingir refinarias e distribuid­oras.

A medida é parte de uma estratégia do governo para pôr fim à política de reajustes diários da Petrobras sem passar a imagem de intervençã­o nem na empresa nem no mercado de combustíve­is.

A Folha apurou que a ação foi negociada previament­e entre governo e ANP, com o argumento de que uma consulta pública propõe a construção de uma solução conjunta com as empresas envolvidas e gera menos risco de afastar investimen­tos.

Principal afetada, a Petrobras divulgou nota dizendo que vai colaborar com a agência e que o diálogo “pode resultar em maior competição ao mesmo tempo em que mantém a liberdade para a formação de preços”.

Em julho de 2017, a estatal iniciou uma política ajustes diários nos preços da gasolina e do diesel, de acordo com as variações das cotações internacio­nais e do câmbio.

Era uma das principais bandeiras do ex-presidente da Petrobras Pedro Parente, que deixou a companhia na sexta-feira (1º), pressionad­o pelas críticas à política de preços.

A política passou a ser contestada com o aumento nos preços dos combustíve­is provocado pela escalada das cotações internacio­nais do petróleo nos últimos meses.

Após a paralisaçã­o dos caminhonei­ros, o preço do diesel foi congelado por 60 dias e a periodicid­ade nos ajustes passará a ser mensal ao fim desse prazo.

O governo teme, porém, novos protestos com relação ao preço da gasolina. Assim, ficou estabeleci­do que a ANP usará suas atribuiçõe­s como regulador para intervir nos prazos de reajustes.

“A solução atenderá às pessoas e às atividades econômicas em seus anseios de ter garantida a possibilid­ade de reajustes e o conforto de preços justos”, disse em nota o Ministério de Minas e Energia, que divulgou a medida antes mesmo da própria agência reguladora do setor.

Em entrevista para anunciar a consulta pública, o diretorger­al da ANP, Decio Oddone, negou que o órgão esteja intervindo nas políticas comerciais das empresas e defendeu a mudança como ato regulatóri­o necessário em um mercado imperfeito.

“Não temos um mercado perfeito no Brasil. Temos um mercado de refino no qual a Petrobras é monopolist­a e o volume de importaçõe­s não é suficiente para precificar os produtos”, disse Oddone.

Para ele, a discussão sobre os prazos de reajuste atende a anseio da sociedade. Oddone afirmou, porém, que a agência não vai interferir em fórmulas para definir os preços.

“Esta consulta permitirá posição alinhada com valores como liberdade de mercado, livre concorrênc­ia, defesa de ambiente democrátic­o para pessoas e atividades econômicas e respeito aos contratos”, disse o ministério.

A consulta pública receberá contribuiç­ões da sociedade até o dia 2 de julho, e a expectativ­a é que uma resolução com a periodicid­ade mínima de reajustes seja publicada entre 40 e 60 dias. ções sobre o uso de força policial para garantir repasses dos descontos aos postos.

“A Venezuela começou assim”, disse Leonardo Gadotti, presidente da Plural, entidade que representa o setor de distribuiç­ão.

Ele disse, no entanto, que as empresas já estão repassando aos postos os descontos recebidos das refinarias.

A Plural reclamou da falta de coerência no discurso do governo, ao prometer ao consumidor um desconto que não seria possível.

“O R$ 0,46 que foi divulgado não chega às bombas por si só”, disse o executivo.

“Não é um discurso coerente e está colocando a população contra o negócio de distribuiç­ão de combustíve­is.”

Ele afirmou que o setor explicou a diferença em reuniões com o governo, mas ainda assim permanece a cobrança pelo repasse de R$ 0,46 por litro.

Para chegar ao valor prometido pelo governo, reforçou o executivo, é preciso que os estados reduzam o ICMS. Em seis deles, pelo contrário, houve aumento no último ajuste quinzenal, disse a Plural.

São eles: Acre (alta de R$ 0,14 por litro), Alagoas (R$ 0,22), Amazonas (R$ 0,04), Paraíba (R$ 0,13), Rio de Janeiro (R$ 0,03) e Tocantins (R$ 0,17). Distrito Federal e outros 18 estados mantiveram os valores. Leia mais sobre diesel e efeitos do protesto dos caminhonei­ros nas págs. A16, A17, A19 e A20

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil