Miss America veta desfile de biquíni e diz preferir beleza interior de candidatas
Quem comprava a Playboy para ler as entrevistas pode celebrar: o Miss America, mais tradicional concurso de beleza dos Estados Unidos, vai abolir o desfile de biquíni porque o que importa, segundo sua diretora, é a beleza interior das candidatas.
“As pessoas na verdade curtem a parte de competição de talento”, disse Gretchen Carlson em um programa de TV.
Vencedora da edição de 1989, na qual tocou violino no concurso de talentos, a jornalista formada em sociologia pela prestigiosa Universidade de Stanford e atual diretora do concurso afirmou que os tempos mudaram e o desfile de biquíni perdeu prestígio, sobretudo entre as jovens.
“Não queremos julgar vocês pela aparência”, disse ela, sobre o concurso que dá à vencedora uma bolsa de estudos de US$ 50 mil (R$ 190 mil).
Nesta edição, em setembro, as candidatas falarão ao júri a respeito de realizações e objetivos, e o desfile de trajes de gala será flexibilizado para que elas “expressem livremente a autoconfiança enquanto debatem iniciativas sociais”, diz a organização.
A decisão pode ser estratégia de sobrevivência de um concurso que ajuda a promover a idealização da beleza feminina há dez décadas.
Criado em 1921 em Atlantic City, o Miss America visava atrair turistas à cidade praiana no nordeste dos EUA usando beldades para tanto. Nos anos 50, surgiu o rival Miss USA, promovido por uma fabricante de maiôs que queria as misses como garotaspropaganda e não conseguiu.
Mas, em seus quase cem anos, a exposição do corpo das candidatas sempre recebeu críticas. Nos últimos meses, após a divulgação de emails de teor misógino de seu ex-diretor, o concurso reformulou sua imagem e ganhou um comando feminino.
“Não somos mais um concurso de beleza. O Miss America representará uma nova geração de líderes concentradas em estudos, impacto social, talento e empoderamento”, afirmou Carlson.
No rastro da mudança de hábitos televisivos e do renascimento do feminismo com o movimento #MeToo, que denunciou assédio e agressão sexual por pesos-pesados do entretenimento e das artes, a audiência tem despencado.
De 2015 para 2016, os telespectadores do Miss America caíram de 7 milhões para 6,2 milhões, e, na edição mais recente, para 5,6 milhões.
“Estamos passando por uma revolução cultural em nosso país, com as mulheres tomando coragem para se erguerem e serem ouvidas a respeito de muitos temas”, disse Carlson.
Segundo a organização, as edições estaduais ainda não incorporarão a mudança. O Miss Universo, versão global do concurso cujos direitos até 2015 pertenciam a Donald Trump, não se manifestou.
Âncora da Fox News, Carlson chamou atenção para o assédio sexual no ambiente de trabalho ao processar seu chefe, Roger Ailes, em 2016.
A acusação diz que ele a coagiu a deixar o emprego após ter seus avanços sexuais recusados, algo que o executivo negou até sua morte, em 2017.