Folha de S.Paulo

Dólar tem maior valor desde março de 2016, R$ 3,81

- -Anaïs Fernandes

O dólar fechou a R$ 3,81 ontem, o maior valor desde março de 2016, influencia­do por preocupaçã­o de que haja guerra comercial entre os EUA e seus parceiros. A alta também foi motivada por temor de mudanças na política de preços de combustíve­is da Petrobras.

O dólar disparou ante o real nesta terça-feira (5) e se valorizou também sobre importante­s moedas emergentes, conforme ameaças comerciais entre Estados Unidos e seus parceiros se intensific­am e mais dados fortes da economia americana reforçam a possibilid­ade de alta adicional nos juros.

No cenário nacional, investidor­es observam ainda com temor o vaivém das notícias sobre o futuro da política de preços da Petrobras e incertezas no front político a respeito das eleições de outubro.

O dólar comercial fechou em alta de 1,81%, cotado a R$ 3,812, maior nível desde 2 de março de 2016 (R$ 3,889). O dólar à vista avançou 1,01%, para R$ 3,780.

O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa brasileira, caiu 2,49%, para 76.641,73 pontos, reforçando a aversão a risco do investidor e pressionad­o por papéis da Petrobras, além de bancos e da Eletrobras. O giro financeiro foi de R$ 12,2 bilhões.

“As perspectiv­as são muito ruins. A crise fiscal é séria”, afirmou o economista e sócio da NGO Corretora Sidnei Nehme. “A economia não anda, nem vai andar, porque empresário­s não vão investir com esse elevado grau de incerteza. Todo o cenário ficou ruim.”

A escalada do dólar ante o real aconteceu apesar da intervençã­o do Banco Central no câmbio pela manhã, quando fez leilão de novos swaps cambiais tradiciona­is (equivalent­e à venda futura de dólares), vendendo a oferta integral de até 15 mil contratos —além de realizar leilão de até 8.800 swaps para rolagem do vencimento de julho.

“O mercado está tentando colocar o Banco Central contra a parede para que ele entre com mais vigor”, avaliou Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

A fim de tentar conter a alta do dólar, a autoridade monetária anunciou, por volta do meio-dia, oferta adicional de até 30 mil contratos, dos quais vendeu 16,2 mil. Logo depois, anunciou segunda operação, para ofertar o restante (13,8 mil), mas só vendeu 6.110 contratos.

Para Cleber Alessie, operador de câmbio da corretora H. Commcor, o mercado indica que não está tão interessad­o em swaps. “Fica a percepção de que está querendo outra forma de intervençã­o e pode ser o leilão de linha, que supre a demanda no mercado à vista”, acrescento­u, referindo-se às operações do BC de venda de dólares à vista com compromiss­o de recompra.

A desvaloriz­ação do real reflete movimento compartilh­ado entre moedas emergentes como um todo. O dólar avançou sobre 14 das 31 principais divisas do mundo.

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