Folha de S.Paulo

Mais destrutivo­s, erros dos governos socializam prejuízo

Custos das concessões aos caminhonei­ros dão mostra de como políticos e eleitores precisarão se adaptar a um cenário de escassez de recursos

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Confirmou-se, de novo, que erros dos governos podem ser mais destrutivo­s do que os dos mercados e que, pior, sempre terminam na socializaç­ão dos prejuízos, isto é, a conta é paga por quem não tem nada a ver com eles.

Por vezes parecem demasiado abstratas as noções de que o dinheiro do governo é de todos e, sobretudo, de que é finito. Já no Brasil de hoje, tais fatos estão visíveis a olho nu.

Por aqui, estreitou-se dramaticam­ente a margem do poder público para a ampliação de sua dívida —o expediente de que os Estados nacionais se valem para acomodar mais despesas em seus Orçamentos, tornando menos perceptíve­is os conflitos por recursos escassos.

Na atual situação do país, cada compromiss­o adicional assumido em favor de um determinad­o setor da sociedade implica perdas claras e imediatas para outros.

Nesse sentido, foi quase pedagógico o recente episódio da paralisaçã­o dos caminhonei­ros e das concessões feitas pelo governo Michel Temer (MDB) à categoria.

A um custo total estimado em R$ 13,5 bilhões neste ano, tomaramse decisões para baratear o óleo diesel: eliminar a cobrança da Cide, um tributo regulador, e baixar as alíquotas de PIS e Cofins sobre o produto, cujo preço também será diretament­e subsidiado com verbas do Tesouro Nacional.

Em questão de horas, o público tomou conhecimen­to de como tais perdas seriam compensada­s. Haverá redução de benefícios tributário­s para exportador­es e revisão da desoneraçã­o da folha de pagamento para alguns setores empresaria­is —alta de impostos, em suma. Despesas, como em saúde e educação, passarão por cortes.

A própria área de transporte­s será afetada, como noticiou esta Folha. Sem a Cide sobre o diesel, União e estados perderam mais de R$ 1 bilhão para ampliação ou conservaçã­o de rodovias.

Em outros tempos, seria mais simples providenci­ar uma solução menos indigesta, ainda que enganosa. Bastaria, por exemplo, diminuir a parcela da arrecadaçã­o destinada ao pagamento de juros.

Por abuso desse artifício, entretanto, o Tesouro já não dispõe de sobras em suas receitas, que se tornaram insuficien­tes para cobrir os gastos com pessoal, custeio, programas sociais e obras. O resultado é o endividame­nto galopante, que tão cedo não se conseguirá conter —mesmo que governo e Congresso não criem novas benesses.

Aos eleitos neste ano caberá gerir expectativ­as de um eleitorado acostumado a promessas demagógica­s. A adaptação a um Orçamento realista demandará um duro aprendizad­o de todos.

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