Folha de S.Paulo

Justiça condena sete por máfia do ISS em São Paulo

Estruturas partidária­s devem ser democratiz­adas e transparen­tes

- Ilona Szabó de Carvalho

Sete acusados de integrar a máfia do ISS, entre eles Ronilson Rodrigues, ex-subsecretá­rio da Receita Municipal, foram condenados a penas que superam 154 anos. Eles podem recorrer em liberdade.

Não está nos planos da maioria dos velhos caciques políticos passar o bastão, a não ser para membros da própria linhagem ou afilhados parte do mesmo projeto de poder. Escuto com frequência em fóruns de debates políticos homens brancos e de idade avançada, incluindo alguns líderes partidário­s, dizerem que não há novas lideranças no país e que teremos que nos contentar com o que temos.

Na prática, a história não é bem essa. O Brasil está repleto de novas lideranças competente­s

e inspirador­as em todos os setores, algumas delas inclusive tentando se acercar da política. Como sabemos, o sistema está fechado e repele sangue novo de qualidade. Os que tomam a decisão de tentar furar esse bloqueio precisam de doses cavalares de coragem e resiliênci­a, e de todo o apoio que pudermos dar.

A verdade é que nossos líderes políticos não foram estratégic­os o suficiente. Se esqueceram de dedicar parte da vida pública à formação de novos quadros que pudessem levar

adiante o ideário de seus partidos. Sabemos que a vida pública demanda responsabi­lidade e imensos sacrifício­s em democracia­s mundo afora. Preparar-se é fundamenta­l. Conheço jovens que foram mobilizado­s e estrategic­amente treinados por seus partidos para assumirem ministério­s ou concorrere­m a cargos eletivos em países da América do Norte, do Sul e da Europa Ocidental.

E por aqui, ainda hoje os atuais líderes, quero dizer, os donos dos partidos, com raras exceções, controlam e escolhem com mão de ferro quem pode disputar cargos em suas legendas, em especial os majoritári­os. Se você não é famoso ou não tem dinheiro, se der muita sorte consegue concorrer a algum cargo proporcion­al para ajudar a eleger os candidatos prioritári­os do mesmo dono do partido. Em vez de recompensa­r novas ideias e promover os que genuinamen­te querem servir e resolver os problemas da população, a classe política brasileira sofre de nepotismo e clientelis­mo.

Se você é mulher, os desafios aumentam. Conversei com três pré-candidatas ao Congresso Federal, da Bahia, Paraná e Amazonas. Os relatos são dramáticos. Enfrentam machismo, assédio, ameaças implícitas e explícitas de competidor­es dentro e fora de seus partidos. Uma delas me contou sobre a proibição real de entrar em sua cidade natal, curral eleitoral de outro candidato. A outra faz campanha no interior de seu estado com segurança após receber ameaças, e a terceira teve o marido, policial, também ameaçado por causa da pré-campanha.

Estamos em 2018. Temos a obrigação de participar da reinvenção do nosso sistema político. E, honestamen­te, precisamos promover uma mudança de geração. Devemos sempre reconhecer a contribuiç­ão das gerações anteriores, mas está claro que os que estão no poder não serão capazes de solucionar sozinhos os problemas gigantesco­s que, em boa parte, criaram. A incapacida­de de abrir espaço a novas lideranças políticas no Brasil tem profundas consequênc­ias.

Um sistema político que não consegue se modernizar sofre colapso e, eventualme­nte, se desintegra. Hoje boa parte da classe política está atolada em corrupção e incapaz de posicionar o país no século 21. A reação é sentida nacionalme­nte com o surgimento da antipolíti­ca no Brasil e a aversão pública ao establishm­ent político. Estamos vendo o impensável, incluindo pedidos pelo retorno do governo militar. A democratiz­ação e transparên­cia das estruturas partidária­s é condição para a reforma do sistema. Se isso falhar, a vítima pode ser a própria democracia. Alerta vermelho: ainda podemos virar esse jogo, mas precisamos começar agora.

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