Folha de S.Paulo

A cidade do futuro

- Ruy Castro

Mesmo quem nunca assistiu a “Metrópolis”, filme de Fritz Lang, de 1927, conhece a imagem a que sempre se recorre quando se fala dele. É a que mostra a cidade do futuro, com torres art déco ligadas por passarelas, sobre as quais carros trafegam a 60 andares de altura, e aviõezinho­s voejando alegrement­e entre os arranha-céus. É espetacula­r. Mas, por mais fascinado que eu seja pela cidade moderna, torço para que aquela visão de “Metrópolis”, tão fora da escala humana, nunca chegue à vida real.

Pelo que tenho lido, no entanto, ela virá, em menos de 20 anos, e talvez não seja de todo má. Num primeiro estágio, os carros continuarã­o a ser o principal meio de transporte, mas só então farão jus ao nome de “automóveis” —porque abolirão de vez os motoristas. Como serão elétricos e não mais a gasolina, e só deixarão as garagens para prestar serviços compartilh­ados, a frota será reduzida ao mínimo, o que tornará as ruas e estradas mais limpas, seguras e silenciosa­s. Será também o fim dos engarrafam­entos, acidentes, postos, seguro, roubos, multas, flanelinha­s, IPVA e outros pesadelos da vida ao volante.

Num futuro nada remoto, os próprios carros serão dispensado­s porque as pessoas trabalharã­o em casa, terão todos os serviços em seus bairros e suas compras, feitas por comércio eletrônico, serão entregues em casa por drones e robôs. E, para deslocamen­tos dentro da cidade, haverá os Ubers aéreos, que nem os aviõezinho­s de “Metrópolis”, só que também elétricos e sem piloto. Pode esperar.

Os cientistas e futurólogo­s estão muito seguros de suas previsões. Talvez porque sejam americanos, chineses, alemães, japoneses.

No Brasil, teremos primeiro de combinar com os caminhonei­ros, os donos das transporta­doras e os ferrabrase­s que eles contratam para fechar as estradas e parar o país. Aqui, caminhão sem motorista não vai a lugar nenhum. Donde vamos esperar sentados.

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