Embaixador dos EUA na Alemanha causa atrito ao defender nacionalistas
O discurso populista do presidente americano, Donald Trump, tem sido repetido por seu corpo diplomático em países europeus como a Alemanha e a Holanda, incomodando aliados na região.
Sua boca em Berlim é o embaixador Richard Grenell, que de tanto atrito virou alvo de pedidos por sua remoção.
O episódio mais recente ocorreu no domingo (3), quando o site de direita nacionalista Breitbart publicou entrevista em que o diplomata de 51 anos celebrava o crescimento de movimentos antissistema na Europa e se dizia disposto a apoiá-los.
Em um gesto incomum, disse ainda que planejava servir um almoço para o chanceler da Áustria, o conservador Sebastian Kurz, a quem classificou como um “rock star” —o austríaco chegou ao poder com uma campanha baseada na aversão aos refugiados.
“Quero empoderar outros conservadores na Europa, outros líderes”, disse, relacionando o surgimento de forças populistas às “políticas frustradas da esquerda”. O partido alemão esquerdista Die Linke pediu, na sequência, que ele seja removido do posto.
Grenell também traçou uma linha reta entre a eleição de Trump em 2016 e a consolidação dos partidos de direita na Europa. O Breitbart o descreveu como “embaixador trumpiano” na entrevista.
A influência de Trump sobre o “boom” do populismo está longe de qualquer comprovação empírica, mas existe uma coincidência clara entre a política dos dois lados do Atlântico.
A Alemanha, por exemplo, foi palco do crescimento dos nacionalistas de direita da AfD (Alternativa para a Alemanha) nas eleições do ano passado. O partido é hoje a maior sigla de oposição no Parlamento alemão.
Steve Bannon, estrategista da campanha de Trump, viajou à Itália nas eleições deste ano para apoiar abertamente os movimentos populistas, e tem se gabado de ter aconselhado o antissistema 5 Estrelas e o nacionalista Liga a formarem um governo.
Já Grenell representa em Berlim a antipatia do republicano pela chanceler Angela Merkel e por suas políticas migratórias —ela abriu a Alemanha para quase 1 milhão de refugiados em 2015.
Antes assessor do conselheiro de segurança John Bolton e comentarista na rede Fox News —a preferida de Trump—, Grenell apresentou suas credenciais em Berlim no início de maio e, dias depois, protagonizou seu primeiro incidente diplomático.
Quando Trump anunciou que os EUA renunciavam ao acordo nuclear com o Irã, rompendo com o consenso de seus aliados, Grenell foi a uma rede social dar um recado para as empresas locais: “Precisam desacelerar as suas operações imediatamente”, escreveu.
Com o gesto, Grenell passou a integrar o time de outro embaixador polêmico de Trump, Peter Hoekstra, que representa os EUA na Holanda.
Em entrevista em janeiro, jornalistas insistiram para que Hoekstra explicasse uma fala de 2015 sobre a Holanda estar mergulhada no caos devido a extremistas, com carros e políticos queimados vivos.
Em estratégia similar à de Trump, o diplomata se recusou a dar exemplos de políticos mortos dessa maneira no país e recebeu a reprimenda: “Aqui é a Holanda. Você precisa responder”.