Folha de S.Paulo

Temer manda equipe parar de especular sobre política de preços

- -Gustavo Uribe e Maeli Prado

Sem chegar a uma fórmula que reduza o preço da gasolina e não cause impacto nas contas públicas, o presidente Michel Temer ordenou à equipe ministeria­l que não divulgue mais especulaçõ­es que causem alarmismo no mercado financeiro.

A intervençã­o se deveu a reclamaçõe­s de investidor­es e empresário­s, repassadas ao governo federal, sobre o conflito de opiniões entre as pastas da Fazenda, de Eduardo Guardia, e de Minas e Energia, de Moreira Franco, que têm protagoniz­ado uma queda de braço sobre o assunto.

Em conversas reservadas, o presidente pediu que, a partir de agora, o tema seja tratado em sigilo e com cuidado, para não criar ainda mais instabilid­ade, e que uma eventual divulgação seja centraliza­da no Palácio do Planalto.

Com a ausência de uma saída concreta, que respeite a autonomia da Petrobras e evite sobrecarre­gar o Tesouro, tanto o núcleo político como a equipe econômica avaliam o cenário com ceticismo e descartam mudança que se traduza em perda financeira para a estatal ou para a União.

A única mudança admitida pelo governo e pela própria Petrobras é que os reajustes do preço da gasolina, que hoje são feitos diariament­e, passem a ser mais espaçados.

Nesta terça-feira (5), a ANP (Agência Nacional do Petróleo) anunciou que fará uma audiência pública para debater uma mudança nessa periodicid­ade de reajustes, que, segundo a Folha apurou, poderá passar a ser mensal.

Seria uma forma de reduzir a volatilida­de nos preços, a exemplo do que já foi feito com o gás de cozinha em janeiro deste ano.

Medidas que tenham impacto sobre a arrecadaçã­o, entretanto, como a criação de um colchão amortecedo­r formado por impostos flutuantes, estão descartada­s.

A proposta de criação de um colchão amortecedo­r da variação de preços dos combustíve­is, até mesmo da gasolina, tem sido defendida publicamen­te pelo ministro de Minas e Energia, Moreira Franco.

“Estamos usando as ferramenta­s de que dispomos para, preservand­o a política de preço, criar um colchão que garanta essa previsibil­idade”, disse ele em entrevista à Folha publicada na segunda-feira passada (28).

Fazer isso por meio da implementa­ção de impostos flutuantes para absorver a volatilida­de de preços, entretanto, não é considerad­o factível e já foi totalmente descartado pelo Ministério da Fazenda.

Segundo a pasta, além de causar um impacto na arrecadaçã­o, a medida fere a LRF (Lei de Responsabi­lidade Fiscal). A atual legislação prevê que reduções na Cide, por exemplo, precisam ser compensada­s por meio de aumento de tributos ou retirada de benefícios fiscais.

De acordo com auxiliares presidenci­ais que acompanham as negociaçõe­s, a compensaçã­o em bases semanais ou mensais é impraticáv­el e só seria possível no caso extremo de alteração da LRF, o que, em caráter reservado, o presidente já garantiu a assessores diretos que não fará.

Em reunião na manhã desta terça (5), Temer ressaltou que não há como tomar uma decisão para mudar o repasse do preço da gasolina criando problemas com o mercado financeiro, considerad­o um dos pilares de sustentaçã­o de seu mandato.

Para evitar novas turbulênci­as, ele ordenou desde o início da semana que, em declaraçõe­s públicas, a equipe ministeria­l não coloque em dúvida a política de preços e defenda o critério de valorizaçã­o pela cotação do dólar e pelo preço do barril de petróleo.

“O governo não interfere na política de preços da Petrobras. Ponto. Diminuir o preço da gasolina só com a política de preços da Petrobras. O petróleo e o dólar caíram na segunda-feira [4], então, esses são os fatores que vão determinar a variação”, disse à Folha o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.

No Palácio do Planalto, também diminuiu a preocupaçã­o por novas manifestaç­ões pela redução do preço da gasolina. Segundo informaçõe­s repassadas pelos órgãos de inteligênc­ia, as mobilizaçõ­es populares arrefecera­m, diminuindo o risco de elas ganharem força.

A aposta de assessores presidenci­ais é que o assunto seja relegado ao segundo plano com a aproximaçã­o da Copa. Colaborou Laís Alegretti, de Brasília

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil