Folha de S.Paulo

Comissão do Senado aprova nova regra para benefício fiscal

Para auditores da Receita, mudança flexibiliz­a Lei de Responsabi­lidade Fiscal

- -Catia Seabra

Sob protestos da Unafisco (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal), a CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado aprovou, nesta terça-feira (5), projeto que regulament­a a concessão de benefício fiscal no país.

Na opinião da Unafisco, o projeto —que depende de aprovação do plenário do Senado— flexibiliz­a as normas para a instituiçã­o de programas de parcelamen­to de dívidas tributária­s, o chamado Refis, provocando prejuízos aos cofres públicos.

De autoria da senadora Lúcia Vânia (PSB-GO), o projeto altera a Lei de Responsabi­lidade de Fiscal. O relator da proposta é o senador Armando Moteiro (PTB-PE).

Nele, considera “benefício de natureza tributária a desoneraçã­o legal de tributo, em exceção a sua legislação de referência”.

O projeto cria o conceito de benefício fiscal para aplicação da Lei de Responsabi­lidade Fiscal.

Mas o texto não inclui o perdão de juros e de multas, nem o alongament­o das dívidas, nessa definição de incentivo fiscal.

Para a Unafisco, essa omissão permitirá a concessão de perdão de juros e multas, bem como prazos alongados de pagamento de tributos, sem que seja submetida aos requisitos definidos pela atual legislação sobre o tema.

O diretor de Assuntos Técnicos da Unafisco, Mauro Silva, afirmou que a Lei de Responsabi­lidade Fiscal é a base de pareceres da Receita Federal sobre programas de parcelamen­to de dívidas.

E, segundo essa legislação, todo o benefício fiscal deve ser acompanhad­o de previsão de impacto e compensaçã­o no Orçamento.

Na opinião da Unafisco, com a nova redação da Lei de Responsabi­lidade Fiscal, a renúncia fiscal sofrida com o Refis não será mais enquadrada na lei.

A autora do projeto discorda dos auditores. “Não tem nada a ver com o Refis. [O projeto] trata exclusivam­ente de fazer um regramento para incentivos fiscais”, disse a senadora Lúcia Vânia.

Segundo a senadora, o projeto foi amplamente discutido no Senado, sendo elogiado até mesmo pela Receita Federal.

Lúcia Vânia afirmou também que a intenção da Unafisco é incluir, nesse projeto, regras para o Refis, que permite prazo de até 15 anos para parcelamen­to de dívidas.

“Eles [os auditores] querem colocar um jabuti dentro do projeto para regulament­ar o Refis. Eles têm razão. O Refis precisa ser regulament­ado. Mas não cabe aqui”, disse a senadora.

Ainda segundo Silva, diretor de Assuntos Técnicos da Unafisco, o texto não fixa limites para a vigência dos incentivos fiscais, exigindo apenas que esses benefícios sejam avaliados a cada dois anos.

O projeto —relatado por Monteiro— cria mecanismos para a fiscalizaç­ão desses incentivos fiscais.

O texto determina ainda que os governos informem metas de política pública a serem alcançadas com a instituiçã­o de incentivos.

Anualmente, governos, prefeitura­s e União deverão encaminhar relatórios ao Legislativ­o, com dados sobre os benefícios tributário­s vigentes, estimativa de renúncia e apresentaç­ão do resultado obtido com a medida.

O relatório deverá ser analisado com a proposta orçamentár­ia a ser apreciada pelo Legislativ­o.

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