Puxada por combustíveis e veículos, indústria supera expectativa em abril
Setor cresce 0,8%, o melhor resultado desde dezembro passado, quando expansão foi de 2,9%
A produção industrial do Brasil fechou abril com um resultado acima do esperado por causa do forte desempenho nos setores de biocombustíveis e automóveis.
No mês, a produção da indústria cresceu 0,8% sobre março, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta terçafeira (5).
É o melhor resultado desde dezembro (2,9%) e acima da alta de 0,5% esperada em pesquisa da Reuters com analistas.
Na comparação com o mesmo período do ano anterior, houve aumento de 8,9%, também melhor do que a expectativa de alta de 7,7%. É o resultado mais forte desde abril de 2013, quando houve alta de 9,8%.
“[Abril] foi o primeiro bom resultado de 2018, mas não é o suficiente para voltar ao patamar do fim do ano passado”, afirmou o gerente da pesquisa, André Macedo.
O destaque em abril foi o aumento de 5,2% na produção de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis. Segundo o IBGE, as usinas deram preferência pela fabricação do etanol em detrimento do açúcar, o que motivou a alta.
Também ajudou o segmento de veículos automotores, reboques e carrocerias, com aumento de 4,7%, terceiro mês consecutivo de ganhos.
Entre as categorias econômicas, a fabricação de consumos duráveis avançou 2,8% no mês, enquanto a de bens de capital —uma medida de investimento— subiu 1,4%.
Ainda assim, é preciso cautela antes de comemorar esses números, afirmou Tabi Thuler Santos, pesquisadora da FGV (Fundação Getulio Vargas).
“A alta em abril ainda não é suficiente para retomar o nível de produção de dezembro, porque em janeiro a queda foi muito forte. Então é um bom resultado, mas cheio de poréns.”
A produção de abril ainda foi 1,3% menor do que estava em dezembro de 2017, considerando o ajuste sazonal.
Sem o ajuste, o índice era de 77,3 de fevereiro e 86,3 em março e subiu para apenas 86,5 em abril, sinal de arrefecimento, disse Otto Nogami, professor de economia do Insper.
De acordo com o economista, os valores com o ajuste (que desconta efeitos sazonais, como as safras agrícolas), divulgados pelo governo, podem distorcer a comparação da atividade econômica mês a mês.
“Os ajustes escondem tanto as altas repentinas quanto as quedas mais bruscas”, disse. “Comparando apenas com o mês imediatamente anterior, sem ajuste sazonal, vemos um arrefecimento do crescimento em abril. O crescimento de março em relação a fevereiro foi maior.”
Segundo Santos, esse é um sinal de algo estranho no ar. Confirma que a produção de bens de capital caiu neste mês. Ainda assim, a produção vem aumentando em 2018, e a variação nos 12 meses anteriores chegou a 3,9% em abril, mostrando um cenário de retomada, ainda que lenta. ainda não sabemos”, disse Macedo, do IBGE.
Os setores que puxaram a indústria em abril chegaram a suspender as atividades durante a mobilização dos transportadores de cargas.
Usinas de açúcar e etanol e a venda de gasolina e diesel estão na lista.
Os dados do setor automotivo já serão conhecidos nesta quarta-feira (6), quando a Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores) divulga a produção de veículos de maio.
Segundo a Folha apurou, o resultado registrará uma queda —a primeira após 18 meses seguidos de altas.
Na avaliação de analistas, mesmo com a inflação e os juros baixos, o cenário no Brasil é de confiança abalada, em um ano de eleição presidencial marcada por incertezas, economia instável e desemprego elevado.
A paralisação dos caminhoneiros, que trouxe desabastecimento generalizado no país e durou dez dias em maio, é um componente a mais para prejudicar o crescimento e a confiança do Brasil.
Com a Reuters