Folha de S.Paulo

Parada no transporte trará maior inflação mensal em 2 anos, diz FGV

- -Lucas Vettorazzo

A paralisaçã­o dos caminhonei­ros ocorrida em maio deverá ter impacto no índice nacional de inflação de junho, segundo cálculos do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Perdas de produção e o aumento no preço de produtos alimentíci­os deverão levar a inflação para 1% neste mês, a maior variação desde janeiro de 2016, quando o IPCA, o índice oficial de inflação do país, variou em 1,27%.

A paralisaçã­o levou a altas expressiva­s de alimentos, como batata, que chegou a registrar em 28 de maio aumento de 150% em São Paulo ante o preço verificado dez dias antes, segundo cálculo da FGV.

A lógica de mercado baseada na oferta e na procura fez disparar o preço de produtos que ficaram parados em caminhões pelas estradas. A cebola chegou a ter alta de 40,20%.

A estimativa é que a inflação de maio não deva ter grandes mudanças, já que o movimento dos caminhonei­ros começou a poucos dias do fim do mês. Os preços de junho, contudo, serão impactados principalm­ente pelas perdas de produtores de alimentos.

Chamaram a atenção durante a paralisaçã­o dos caminhonei­ros imagens de produtores de leite jogando suas produções fora diante da incapacida­de de escoar o produto perecível, bem como a morte de frangos em granjas que não conseguira­m receber rações a tempo.

Segundo o coordenado­r do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) do Ibre, André Braz, essas perdas vão cobrar seu preço ao consumidor. “Esse tipo de perda será repassada ao preço final, pressionan­do a inflação de junho”, disse.

Braz lembra que já havia a expectativ­a de alta da inflação de junho antes mesmo da paralisaçã­o dos caminhonei­ros, por causa de reajustes em outros setores.

O baixo nível dos reservatór­ios das hidrelétri­cas levou à adoção da bandeira tarifária vermelha de nível 2 em junho, que na prática significa aumento do preço da conta de luz. Além disso, uma quebra da safra de soja na Argentina pressionou o preço da ração animal.

“Essa alta [motivada pela paralisaçã­o] vai se confundir com uma questão sazonal, que é a estiagem do meio do ano, que seca pastagens e encarece o preço da carne”, explicou Braz.

Apesar de o governo de Michel Temer dizer que a inflação sob controle é mérito próprio, economista­s explicam que os preços têm sofrido menos pressões por causa da baixa atividade econômica.

A inflação de junho vai superar, por exemplo, a acumulada em todo o primeiro trimestre deste ano, de 0,7%. Braz lembrou que no início do ano a taxa de inflação costuma sofrer impacto dos chamados preços administra­dos, que são aqueles cujos aumentos são determinad­os por governos.

Um exemplo são as passagens de ônibus. Essas altas se juntam a outras despesas, como matrículas e material escolar. “A inflação de junho atingirá patamares pré-crise”, disse Braz.

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