Folha de S.Paulo

Justiça condena 7 por máfia do ISS, e penas somam 154 anos de prisão

Fiscais que davam desconto de imposto em troca de propina em SP poderão recorrer em liberdade

- -Thais Bilenky e Thiago Amâncio

são paulo A Justiça condenou sete acusados de integrar a máfia do ISS em São Paulo a penas que, somadas, superam 154 anos de prisão, além de ordenar a devolução de R$ 8 milhões e de imóveis adquiridos no período em que vigorou esse esquema de cobrança de propina em troca de descontos no imposto municipal.

A decisão se refere ao principal processo (há mais de 30 em curso) da máfia do ISS, descoberta há quase cinco anos após investigaç­ão da Controlado­ria Geral do Município. Segundo a Promotoria, foram desviados mais de R$ 500 milhões de 2007 a 2013.

Todos os condenados poderão recorrer em liberdade. Apontado como chefe do esquema, o ex-subsecretá­rio da Receita Municipal Ronilson Bezerra Rodrigues foi condenado a 60 anos e sete meses de prisão, por crimes como formação de quadrilha, associação criminosa, concussão e lavagem de dinheiro. Ele também precisará pagar R$ 3,5 milhões e terá confiscado­s os imóveis que adquiriu.

No mês passado, Ronilson disse à Folha que seu acordo de delação premiada não foi aceito pelo Ministério Público por ter se recusado a envolver no escândalo o ex-prefeito Gilberto Kassab (2006-2012). A Promotoria nega a acusação.

Para o promotor Roberto Bodini, é “impossível que esse grupo tenha operado e agido durante todo esse tempo sem que tivesse apoio político”.

Ele afirmou que não pode investigar pessoas com foro privilegia­do —Kassab é ministro da Ciência e Tecnologia do governo Temer (MDB).

Em setembro, o STF aceitou arquivamen­to do inquérito contra o ministro por falta de provas. O ex-prefeito nega qualquer envolvimen­to no caso da máfia do ISS. Pelo esquema, em troca de propina, empreiteir­as obtinham descontos no imposto para a concessão do Habite-se após a conclusão de obras imobiliári­as.

O ex-auditor Luís Alexandre Cardoso de Magalhães foi condenado a 43 anos, além do pagamento de R$ 3,437 milhões.

Ele e Ronilson já tinham sido condenados antes, mas em processos menos amplos.

Segundo a Promotoria, há ainda outras 30 ações penais em curso envolvendo supostos integrante­s da máfia.

Na sentença, a juíza Luciane Figueiredo disse que, embora sejam tecnicamen­te primários, Ronilson e Magalhães tiveram a pena majorada em um quarto do mínimo em razão do comportame­nto exibido.

“O réu denotou personalid­ade desvirtuad­a, manipulado­ra e calculista, desprovida de freios morais, com grave ruptura de caráter e crença na impunidade”, escreveu.

A juíza ainda disse que eles não demonstrar­am “mínimo traço de arrependim­ento”.

A investigaç­ão, diz a Promotoria, surgiu da “incompatib­ilidade material do patrimônio dos fiscais”, que ganhavam entre R$ 15 mil e R$ 18 mil, mas tinham patrimônio avaliado em até R$ 25 milhões.

Outros condenados foram Carlos Augusto di Lallo Leite do Amaral, Eduardo Horle Barcellos, Amilcar José Cançado Lemos, William de Oliveira Deiró Costa e Henrique Manhães Alves (único que não era fiscal, mas por ocultar o patrimônio de Ronilson).

A defesa de Magalhães afirmou que só vai se pronunciar “após a leitura detalhada da decisão que contém mais de 300 laudas”. Ronilson não respondeu a recado deixado pela reportagem. A Folha não conseguiu contato com os outros condenados pela Justiça.

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Bruno Santos/ Folhapress Ronilson Rodrigues, condenado a 60 anos de prisão

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