Palhaço ‘durão’ aplica multa solidária e orienta motoristas no interior de SP
são paulo Ele pinta o rosto, coloca nariz vermelho, óculos escuros e sai pela cidade. A roupa laranja e preta é semelhante à de um guarda de trânsito comum. Com o bloco de multas nas mãos, o agente Paxola interpela motoristas sem cinto de segurança, motociclistas com a viseira levantada ou pessoas atravessando ruas fora da faixa de pedestre.
“O Paxola é um palhaço durão, é uma autoridade, dá bronca em quem não respeita as leis de trânsito”, afirma o ator Sóstenes Silva de Souza, 46, que dá vida ao personagem que criou.
A voz de estilo radialista de Souza muda para um tom infantil quando ele se veste de agente Paxola, que aplica as multas solidárias a infratores de trânsito no interior de SP.
Apesar do personagem caricato e engraçado, o trabalho está baseado em um documento sério, o Código de Trânsito Brasileiro. Segundo Souza, seu objetivo é conscientizar a população sobre as leis que organizam as ruas.
O ator não se considera um grande conhecedor da legislação. “Sei as leis básicas, o fundamental para o trabalho de educação.” Ele conta, porém, já ter participado de uma conferência internacional de trân- sito, em 2015, em Brasília.
Souza vende os serviços do seu personagem para prefeituras. Os contratantes geralmente são departamentos ou secretarias de trânsito de municípios como Registro, Bauru e Lins —esta última é onde ele nasceu e foi criado, antes de viver na capital. O pagamento da multa aplicada pelo palhaço Paxola não é em dinheiro.
Ele conta que os R$ 195,23 por andar sem cinto de segurança, previsto na lei, uma das infrações mais comuns, podem ser substituídos por uma cesta básica ou uma caixa de leite para uma instituição de caridade ou uma família necessitada. Suas punições não têm nenhum valor legal.
Nem todos entendem a brincadeira. “Muitos acham que é de verdade, ligam na secretaria de trânsito para pagar a multa”, afirma. O cumprimento também não é obrigatório. “Somente se for de coração”, informa a mensagem no final da folha da multa.
Nas ruas de Lins, parece que Paxola tem credibilidade.
“Quando os pais vão levar ou buscar os filhos em uma escola aqui da cidade, eles não respeitam muito a faixa de pedestre. Então, os guardas me chamam. Eu vou lá, as pessoas ficam com vergonha das minhas intervenções e respeitam as regras.”
O mesmo acontece com aqueles que andam sem o cinto de segurança.
“Quando me veem, logo colocam o acessório. Mas nem todas as pessoas gostam. Às vezes tem um ou outro motociclista que não abaixa a viseira e sai acelerando.”
Em 2013, quando deixou São Paulo para voltar a morar no interior, Souza procurava uma forma de ganhar a vida, sem deixar o teatro. “Levei uma fechada no trânsito quando guiava uma moto e quase fui parar no chão”, conta, sobre o momento em que teve a inspiração para criar o agente Paxola.
A experiência com palhaço vem desde 1997. Como voluntário, Souza percorria leitos de hospitais infantis. Já fez outros personagens clássicos, incluindo Papai Noel e o Zé Gotinha, das campanhas governamentais de vacinação.
O trabalho como Paxola é alternado com outras atividades artísticas e voluntárias. Além disso, tem que cuidar de sua mãe, com 81 anos. “Levo no médico, na farmácia, no banco. Sou filho único.”
Souza teve cinco casamentos. Ele atribui o insucesso ao ciúmes que as ex-companheiras tinham de seu trabalho como artista. “Sempre estou em contato com muitas pessoas.”
A ideia de batizar o personagem de Paxola veio do nome de um cavalo homônimo. O dono do animal era o avô de uma amiga, segundo Souza.