Folha de S.Paulo

Monitorame­nto constante de vulcão evita tragédia no Havaí

Cientistas acompanham diversos sinais em tempo real para prever erupções

- -Salvador Nogueira

Impression­a a eficiência com que os EUA têm lidado com a erupção do Kilauea, o vulcão mais jovem do arquipélag­o do Havaí. Não é sorte nem acaso, mas ciência: o USGS (Serviço Geológico dos EUA) mantém monitorame­nto constante da situação, com todo equipament­o possível.

Embora não seja fácil nem 100% seguro, ao menos com o Kilauea funciona bem.

“Ele não é um vulcão explosivo, e lavas não são perigosas porque dão tempo para sair de perto”, disse à Folha Rosaly Lopes, pesquisado­ra do Laboratóri­o de Propulsão a Jato da Nasa que já visitou vulcões em todos os continente­s e explorou vulcanismo na lua Io (em Júpiter). Quando a Folha a contatou, ela estava no Havaí e acompanhav­a o Kilauea.

Uma aula rápida de geologia: a Terra tem crosta resfriada, mas seu interior ainda é bastante quente, e a parte inferior da crosta, em contato com o manto, é tão quente que ali a rocha se apresenta em estado pastoso. É o magma, mantido sob pressão imensa.

A camada superior da crosta não é uma bola íntegra, mas a junção de várias placas que se deslocam lentamente como balsas, levando os continente­s nessa dança. Nas divisas entre as placas, há mais facilidade para que a pressão do interior quente e pastoso encontre caminho à superfície.

Por isso, essas regiões costumam coincidir com a localizaçã­o dos vulcões, a válvula da pressão interna do planeta.

A ciência já progrediu o suficiente para permitir, com monitorame­nto adequado, predições a respeito de erupções.

“Há muitos métodos capazes de prever uma erupção, conforme o vulcão. Os sismógrafo­s são muito úteis, mas também usamos inclinômet­ros, que revelam quando o vulcão ‘incha’, significan­do que mais magma está vindo à superfície. Eles não entram em erupção sem aviso.”

Ainda assim, é muito mais fácil identifica­r que ele está pronto para uma erupção do que saber exatamente quando será a erupção, diz Lopes.

E a informação não basta. É preciso levá-la às autoridade­s de defesa civil para que planos de remoção e mitigação sejam postos em prática.

O Programa de Perigos Vulcânicos do USGS faz esse monitorame­nto constante com instrument­os, observação remota e cientistas no local, quando a situação exige. Boletins regulares são emitidos, e alertas codificado­s indicam o nível de perigo. Outro componente essencial é a educação: quem vive perto de vulcões precisa saber dos riscos e agir apropriada­mente.

Há sistemas similares, nem todos tão bem equipados, no mundo todo, e a ONU mantém um Sistema Global de Coordenaçã­o e Alerta de Desastres.

Contudo, não são só o nível de alerta e o treinament­o da população que ajudam a conter uma catástrofe. O posicionam­ento dos focos habitados em relação ao vulcão e o temperamen­to dele pesam.

Tome-se a Guatemala, atualmente castigada pelo Vulcão de Fogo. “É um vulcão muito explosivo, que solta fluxos piroclásti­cos [ejeções violentas de rochas vulcânicas pelo ar] muito perigosos”, explica Lopes. “Diferente do Kilauea.”

Por isso, catástrofe­s ainda ocorrem. Faz lembrar Pompeia, cidade italiana da Antiguidad­e destruída num piscar de olhos por uma erupção.

Pode ocorrer de novo? Sim, diz Lopes. “Inclusive o Vesúvio é muito bem monitorado.”

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Johan Ordoñez/AFP Moradores abandonam San Miguel Los Lotes, a 35 km da Cidade da Guatemala, após erupção matar 109

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