Folha de S.Paulo

Banco Central atende à demanda por ‘seguro cambial’ em ano de eleições

Instituiçã­o eleva oferta de swap e ajuda investidor­es a se prevenir com contratos futuros em dólar

- -Ana Paula Ragazzi

O Banco Central informou nesta quinta-feira (7) que não tem preconceit­o em usar quaisquer instrument­os para conter a volatilida­de cambial, sejam eles swaps, sejam leilões de linha, seja o uso das reservas.

Desde abril, quando a moeda americana começou a se valorizar em relação ao real, o Banco Central tem optado por usar apenas um deles, o swap cambial, contrato que equivale à venda de dólares no mercado futuro.

O BC está intervindo nesse segmento porque foi lá que começou a vir a pressão ao câmbio.

A demanda por dólares no mercado futuro ocorre porque nunca foi tão barato para os investidor­es e empresas proteger suas aplicações e dívidas em dólares por meio das operações de hedge (seguro cambial).

Se a dívida ou o investimen­to em moeda americana tiver vencimento dentro de seis meses ou um ano, como exemplo, o investidor ou empresário busca um contrato no mercado futuro e fixa o valor do dólar ao fim desse prazo.

O custo para fazer esse “seguro” contra a oscilação cambial é, de uma forma simplifica­da, o diferencia­l de juros entre duas moedas, por exemplo, real e dólar.

Como a Selic vem caindo há um ano e está num patamar baixo histórico, de 6,5%, e os juros americanos também estão em níveis baixos, apesar da tendência de alta, houve um estreitame­nto da diferença entre essas duas taxas.

Há um ano, com os juros aqui e lá fora em outros patamares, a diferença entre o preço do dólar à vista e futuro estava ao redor dos 10%; atualmente, está próximo dos 3%.

Além de estar muito mais barata, essa operação fica particular­mente interessan­te aqui pelo fato de o Brasil estar num ano eleitoral, em que tradiciona­lmente há volatilida­de no câmbio.

Apesar da alta do dólar, portanto, o mercado não identifica­va, pelo menos até o mês passado, uma fuga de recursos do país, já que a demanda maior estava concentrad­a nas operações de hedge.

Os dados do fluxo cambial de junho só deverão ser divulgados pelo BC a partir da próxima semana.

Ilan Goldfajn, presidente do BC, disse que a instituiçã­o tem munição para atender à demanda dos investidor­es por dólar.

O estoque atual de swaps, de US$ 34,4 bilhões, está no menor nível em dois anos e ele disse que poderá usar esse instrument­o em volumes superiores ao usado no passado.

Se identifica­r falta de liquidez, ou seja, pressão intensa para retirada de recursos do país, ele também poderá atuar no segmento à vista, com reservas ou leilões de linha.

O Brasil tem US$ 382 bilhões em reservas, o que coloca o país em situação muito mais confortáve­l para conter até mesmo um eventual ataque especulati­vo.

A Argentina passou por isso no mês passado, mas com cerca de US$ 50 bilhões em reservas, e acabou tendo buscar o socorro.

Os emergentes sofrem com a valorizaçã­o do dólar globalment­e com a perspectiv­a de elevação os juros americanos —investidor­es deixam aplicações em países emergentes e migram para os Estados Unidos.

Saber se as reservas do Brasil dariam conta de um ataque especulati­vo, de fato, é praticamen­te impossível.

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Beto Nociti/BCB Ilan Goldfajn durante apresentaç­ão de ações do Banco Central para conter a alta do dólar em relação ao real
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