Trump defende volta da Rússia ao G7 e fica mais distante de países aliados
Divergências entre americano e demais líderes tornam improvável declaração conjunta do grupo
Parecia que o clima entre as sete economias mais desenvolvidas do mundo não poderia ficar pior. Só parecia.
Como se não bastassem uma iminente guerra comercial, a tensão sobre o acordo nuclear com o Irã e desencontros em relação ao aquecimento global, o americano Donald Trump resolveu falar, no primeiro dia da cúpula do G7, sobre... Rússia.
“A Rússia deveria estar nesta reunião”, afirmou, antes de embarcar para o encontro. “Pode ser que isso não seja politicamente correto, mas nós temos um mundo para tocar. E deveríamos ter a Rússia na mesa de negociações.”
Trump não explicou por que a Rússia deveria ser reintegrada. O presidente adota um tom afável em relação a Moscou (muito diferente daquele assumido em relação a vários parceiros dos EUA) desde sua vitória na eleição de 2016. A interferência russa nesse pleito é investigada —o americano nega qualquer favorecimento.
A declaração causou desconforto entre os líderes do G7, que se reúnem até este sábado (9) no Canadá. A cada pergunta de jornalista —“E a Rússia?”—, seguia-se um remexer de ombros. Nem as tarifas contra o aço e o alumínio recém-anunciadas pelo americano contra aliados despertavam constrangimento igual.
O país do presidente Vladimir Putin entrou no grupo em 1997, mas foi excluído em 2014, após ter anexado o território da Crimeia, que fazia parte da Ucrânia. A ação foi considerada pelos paísesmembros uma violação ao direito internacional, e as relações foram se deteriorando ao longo do tempo, com acusações de ingerência em eleições estrangeiras e de ataque químico a um ex-espião russo no Reino Unido.
“A Rússia deixou muito claro que não tem interesse em se comportar de acordo com as regras das democracias ocidentais”, afirmou a ministra canadense de Relações Exteriores, Chrystia Freeland.
Desde a exclusão de Moscou, o G8 voltou a ser G7, e a Rússia foi alvo de sanções econômicas dos EUA e da Europa.
Só um líder disse concordar com a sugestão de Trump: o recém-chegado Giuseppe Conte, premiê da Itália que assumiu o posto no início do mês. “É do interesse de todos”, afirmou, pelas redes sociais.
Os demais, até aqui, mostraram-se contrários à ideia. Para o presidente do Conselho Europeu (que reúne os líderes da UE), Donald Tusk, o país de Putin tem poucos objetivos em comum com o grupo, e seu reingresso neste momento seria desafiador e “muito difícil de conciliar”.
“Renovar o nosso relacionamento com a Rússia é algo que pretendemos fazer. Mas temos que tomar posição contra abordagens e ações agressivas por parte do país”, disse Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia (o braço executivo do bloco).
O Kremlin fez pouco caso, e respondeu à sugestão de Trump dizendo que está concentrado em “outros formatos” de conversas multilaterais que não o G7.
O americano não entrou mais na celeuma. Disse que o tema não foi discutido nas mesas-redondas entre os líderes e preferiu concentrar esforços no segundo assunto mais controverso do dia: comércio internacional.
O presidente impôs, na semana passada, tarifas ao aço e alumínio importados da Europa, do México e do Canadá, que responderam com retaliações a produtos americanos.
Antes de embarcar para o evento, Trump voltou a vociferar sobre o tema.
“O Canadá nos trata de forma muito injusta no comércio; muito, muito injusta. A União Europeia também”, disse, ao reclamar do déficit comercial com os países e de barreiras comerciais a produtos americanos. “Quando a gente arrumar isso, estaremos todos nos amando novamente.”
Horas depois, em frente ao anfitrião do encontro, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, o americano disse estar trabalhando em um acordo. O mesmo fez em frente ao presidente da França, Emmanuel Macron —que tecera duras críticas à política comercial dos EUA no dia anterior.
“Eu vejo uma disposição dos dois lados para se chegar a um acordo”, disse o francês.
Não devem ser conversas fáceis. Trump já afirmou que, se não se chegar a um acordo, será “melhor ficar de fora”. O americano ainda deve deixar a cúpula mais cedo, na manhã de sábado, rumo ao encontro com o ditador norte-coreano Kim Jong-un, previsto para terça-feira (12), em Singapura.
Auxiliares das delegações deveriam trabalhar ao longo da madrugada para chegar a um modelo de declaração conjunta dos sete líderes. Mas isso ainda é dúvida, dado o distanciamento entre os EUA e os demais países.